O Piauí, filho do sol do equador, está completando 190 anos de adesão à Independência do Brasil. Em quase dois séculos de existência seu povo guerreiro e batalhador vem construindo aquilo que chamamos de identidade local, a piauiensidade. Em tempos de globalização, os costumes e tradições locais precisam se resignificar a cada dia para não serem engolidos pelos globais. No Estado, experiências individuais e coletivas empreendidas nas mais diversas áreas propõe uma imagem positiva de Piauí, como por exemplo, na música, uma das mais tradicionais manifestações artísticas.
“A música é uma das expressões artísticas mais primitivas que nós temos e vem auxiliando populações na criação e fortalecimento de sua própria identidade. No Piauí essa realidade não seria diferente. Através da literatura de cordel, que mistura música e poesia, os violeiros, o embolado com os cantadores e a música popular construiu e fortaleceu a nossa piauiensidade”. Relata Alcides Valeriano, um grande nome da música piauiense.
Segundo ele, somente a partir dos anos de 1970 começa a evidenciar a identidade cultural do Piauí através da música. “Nessa época começamos a elaborar músicas poéticas, melodias mais trabalhadas e com tendências para agregar outros ritmos que recebemos de outras regiões”, afirma.
Na concepção do músico, o folclore é a maior riqueza cultural do Piauí e por isso é a grande fonte inspiradora da produção musical. “Todos os artistas locais que conheço buscam se inspirar no folclore para produzir suas músicas, tanto popular, como erudita. Esse fenômeno fortalece a nossa piauiensidade, é perceptível o jeito de falar dos piauienses nas músicas que produzimos”, destaca Alcides Valeriano.
Alcides Valeriano disse à nossa reportagem que a primeira coisa que fez ao despertar interesse pela música foi conhecê-la. “Procurei estudar, eu queria ser músico e fui estuda-la para conhecer melhor. De posse do conhecimento de sua teoria e história, comecei a difundir o que temos de melhor na música, uma música trabalhada, com arranjos e criações melódicas bem elaboradas reportando as raízes culturais do Piauí, como o folclore, as lendas, os contos populares e nossos locais de referência”.
Terra querida
Dentre os trabalhos de Alcides Valeriano que corroboram com a construção da piauiensidade través da música ele destata “O mundo Imundo do Raimundo” , que conta a história de um menino que tinha de tudo na infância e depois ficou sem nada, sendo obrigado a vender bolo frito na rua para sobreviver. “Os piauienses se indentificaram muito com a letra dessa música. Ela já foi até tema de debate em escolas públicas de Teresina. Depois veio a “Terra Querida” uma música que fala do Piauí, de sua culinária, cultura, belezas naturais e as pessoas utilizam até didaticamente”
Segundo ele, o fato de um dos traços marcantes da música piauiense ser a referência a pontos turísticos do Estado e costumes de seu povo, seria possível, num futuro distante, contar a história do Piauí com base na vasta obra da música local. Alcides enaltece a boa qualidade dos trabalhos musicais e lamenta a pouca divulgação. Felizmente, órgão como prefeitura, Governo do Estado e universidades priorizam a divulgação da produção local através das rádios institucionais. As rádios comerciais, no entanto, desprezam o trabalho de nossos artistas, embora exista uma lei que determina que elas devam vincular 20% de musica piauiense na sua programação musical”, afirma.
Musicoterapia
Além de cantar as belezas e tradições do Piauí, Alcides Valeriano dar sua contribuição na musicoterapia. Ele explica que “se trata de uma nova faixa da música que a partir dos anos 50 do século XX, algumas pessoas nos Estados Unidos utilizavam a música como forma de terapia para os enfermos. Ao longo desses anos essa prática vem sendo estudada e já teve sua eficácia comprovada cientificamente”, argumenta.
De acordo com ele, no Brasil, a musicoterapia começou a ser difundida a partir dos anos 70. “Em 2006 fiz uma especialização e venho, a partir de então, trabalhando com crianças, grupos de idosos, pessoas que tem paralisia cerebral, temos usado a música como forma de amenizar o sofrimento e dar uma melhor qualidade de vida a muitas pessoas aqui no Piauí”, finaliza.
O exemplo de Alcides Valeriano é apenas uma peça do mosaico de experiências coletivas e individuais que constituem, fortalecem e divulgam a identidade piauiense.
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