O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou mais uma vez a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic. A alta foi mais uma vez de 1 ponto percentual, levando os juros para 13,25% ao ano.
A quarta elevação consecutiva acontece na primeira reunião comandada por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência do BC. Ele substituiu Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi um dos principais alvos de críticas de Lula nos dois primeiros anos de governo.
A alta já havia sido indicada por Galípolo, que conduz sua primeira reunião sob forte pressão do mercado financeiro. De acordo com Boletim Focus, organizado pelo BC, os bancos elevaram duas vezes sua previsão para a inflação anual em 2025: de 4,96% no final do ano passado, para 5,5% nesta semana. Isso aumenta a pressão para que o Copom aumente os juros, mesmo que essas previsões muitas vezes não se confirmem.
Para Pedro Faria, economista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o problema da nova gestão do Banco Central é desenvolver novas ferramentas para lidar com um problema real, que é a alta, ainda que moderada, da inflação.
A política monetária brasileira continua utilizando a excessivamente um único instrumento para tentar conter a inflação, e um instrumento que tem sido extremamente ineficiente, que são juros", afirma.
"A gente tem uma doença que não é grave, a inflação brasileira não é grave. Ela tem questão de popularidade de governo, do preço dos alimentos, mas ela é pequena, ela não está descontrolada. E está dando muito remédio, juros muito altos para tratar a doença, que pode ser tratada com um coquetel de medicamentos", exemplifica.
Entre os tratamentos alternativos, ele inclui ações específicas para reduzir o preço dos alimentos – um dos grupos que mais aumentou no ano passado, com grande custo para a população – e uma postura mais ativa do BC no mercado de dólares, intervindo para reduzir a cotação da moeda, que tem impactos na inflação.
Faria elogia a mudança de postura do órgão sob Galípolo, que tem agido de forma mais assertiva para conter a alta do dólar. "Que isso continue enquanto for necessário", defende.
No caso dos alimentos, pouco impactados pela alta dos juros, Faria propõe o uso de "fundos estabilizadores". "Você taxar exportações, porque estão tendo uma alta, e o café é o caso mais emblemático. Os produtores estão ganhando rios de dinheiro que não têm nada a ver com a eficiência deles", explica. "Você pode pegar um pouco disso, taxar um pouco e usar isso para amenizar os efeitos dessa alta para as pessoas. Dando ali algum crédito tributário, por exemplo, para o varejista de café, para o atacadista de café nacional, desde que ele mantenha um certo nível de preço."
Sem essas mudanças, o espaço para queda nos juros é pequeno, prejudicando o crescimento econômico, a criação de postos de trabalho e aumentando o peso da dívida pública.
"Não adianta ser o Galípolo, que é melhor do que o Campos Neto, como a gente já tem visto com as intervenções no mercado de câmbio, como a gente tem visto na mudança da comunicação, o Banco Central não fica mais espalhando pânico. Ele fica em silêncio, o que impõe muito custo para os especuladores de mercado de câmbio", avalia. "Enquanto a gente não tiver um pacote, uma caixa de ferramentas com várias ferramentas para lidar com a inflação, nós vamos continuar tendo juros excessivos."
O que é Selic?
A taxa Selic é referência para a economia nacional. É também o principal instrumento disponível para o BC controlar a inflação no país.
Quando ela sobe, empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros. Isso desincentiva compras e investimentos, o que contém a inflação. Em compensação, o crescimento econômico tende a ser prejudicado.
Já quando a Selic cai, os juros cobrados de consumidores e empresas ficam menores. Há mais gente comprando e investindo. A economia cresce, criando empregos e favorecendo aumentos de salários. Os preços, por sua vez, tendem a aumentar por conta da demanda.
Brasil de Fato
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