Meus amigos, se vivo fosse, meu tio Aristóteles Ibiapina (Tothe) estaria completado 70 anos de idade: 17 de setembro de 1953. Dia 21 de setembro completou 3 anos de sua morte, ocorrida no 21 de setembro de 2020. Nós dois crescemos juntos, com apenas 7 meses de diferença, sendo ele mais velho. 

Costumávamos conversar bastante, pelo telefone, pelo WhatsApp e pessoalmente, quando nos encontrávamos na Barra Grande, em Parnaíba ou em sua casa na Serra de Viçosa. 

Poucos meses antes dele morrer, estivemos juntos para cumprir um desejo seu: entrevistá-lo para que eu escrevesse sua biografia. Conversamos durante 5 horas seguidas, gravador ligado e muito entusiasmo em suas histórias. Uma delas, vou aproveitar o seu aniversário para contar a vocês. Meu avô Fontes Ibiapina costumava levar os filhos Ariosto e Aristóteles para passar uns dias em Picos, terra onde nascera. Certa vez, Totim (como eu o chamava) estava brincando com os primos quando um fato inusitado aconteceu no único poço que existia na região. Vou deixar que ele mesmo conte:

“Havia um poço lá no tio Quincó, dentro da Vaca-Morta. Era um poço cacimbão. Até hoje eu fico com raiva quando cortam a minha. Tipo assim: eu estar fazendo uma coisa e uma pessoa dizer que eu não posso. Se me deixarem fazer, eu enjoo logo. Mas isso aconteceu mais por causa dos meninos do tio Cacá, não lembro qual deles. Eu, com a raiva que me fizeram, queria me vingar de algum jeito. Aí, um deles disse assim: “Pois caga no poço”. Foi a melhor ideia que tiveram. Eu devia ter uns seis anos, nem lia direito ainda. Era um poço de tijolo, não era nem rebocado. Eu me segurei numa forquilha que tinha e sentei o pau”.

O poço teve que ser fechado, para que vocês tenham ideia do tamanho do “desaforo” do menino. Como disse Guimarães Rosa: “As pessoas não morrem, ficam encantadas...”. Totim não morreu; encantou-se. E dia 17 de setembro foi o aniversário dele.

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Eneas Barros, escritor piauiense - nas redes sociais.