O livro “um defeito de cor”, da escritora mineira Ana Maria Gonçalves, estava aqui na biblioteca de casa desde 2016, esperando pacientemente ser lido (os livros são assim…). Semana passada fui à praia de Maramar, na costa atlântica do meu Piauí e levei o volume comigo, e que volume, são 950 páginas. Nos interlúdios das vivências praianas, entre sol, sal, sea, salivas e cerveja, as primeiras 200 páginas foram devoradas. De volta ao burburinho urbano, sigo lendo o caudaloso relato de Kehinde, personagem que conduz a contundente narrativa recortada no espaço histórico da escravidão negra no Brasil.
Para minha surpresa, na segunda-feira, 17 de julho, a convidada do Roda Viva foi justamente a criadora desta obra que me impressiona.
Ana Maria Gonçalves falou de forma direta e sem percalços, num franco discurso sem afetações, revelando seu percurso gerativo da obra, a pesquisa, a corporalidade da escrita, o método da escrevivência, a busca do entendimento ancestral, do que é ser mulher negra no Brasil e os desafios da escrita negra na literatura brasileira contemporânea. Deu um show de percepção, compromisso, leveza e simpatia. Sem defeito de corpo discursivo.
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Feliciano Bezerra é professor doutor da UESPI - nas redes sociais.
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