Facebook
  RSS
  Whatsapp
Sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Colunas /

Cultura

Cultura

cantidiosfilho@gmail.com

05/12/2022 - 08h02

Compartilhe

Cultura

cantidiosfilho@gmail.com

05/12/2022 - 08h02

A obra-prima de Anfrísio Neto

 

Eneas Barros e Anfrísio Neto, escritores piauienses

 Eneas Barros e Anfrísio Neto, escritores piauienses

Meus amigos, hoje eu gostaria de render minhas homenagens ao doutor Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco, que escreveu uma obra-prima chamada “Mandu Ladino” (à venda nas livrarias Nova Aliança e Entrelivros). Outro dia, cruzei com ele em um desses supermercados da vida e resolvi tietá-lo, fazendo a selfie que ilustra esse texto. 

Periodicamente, eu reproduzo um texto que escrevi, quando finalizei a leitura desse grandioso livro, há 4 anos. 

Como pesquiso muito para escrever meus romances, percebi na leitura de “Mandu Ladino” que doutor Anfrísio alcançou uma espécie de Nirvana literário, ao mergulhar profundamente em um passado de costumes e cenários piauienses que poucos livros de história conseguem retratar. 

O livro conta a saga do índio Mandu, da tribo dos Alongares, que lutou até o fim da vida pela liberdade indígena, pelo direito à terra e pelo fim da submissão aos brancos conquistadores. 

Foi uma das mais fascinantes histórias que já li, não apenas pelo seu enredo, que é palpitante, mas pelo vasto conhecimento que o autor demonstra sobre o sertão piauiense, os costumes antigos, a linguagem indígena, a descrição da fauna e da flora e a narrativa de batalhas épicas. O vocabulário é invejável e percorre com maestria as dificuldades de comunicação entre índios e brancos (dificílimo de reproduzir em uma narrativa). 

Expõe a brutalidade das relações entre o conquistador e suas vítimas, deixando transparecer a alma indígena, os seus medos, suas crenças e, sobretudo, sua forma carinhosa e protetora de cuidar de suas mulheres, crianças e idosos. 

Anfrísio nos pega pela mão e nos conduz pelos vastos campos piauienses, mata fechada, grotões, planícies, riachos e rios, desbravando cada palmo de chão e antevendo o futuro surgimento de cidades como Campo Maior, Piracuruca, Batalha, Teresina, São Miguel do Tapuio, São Bernardo do Maranhão, Barras e Oeiras. 

Os conquistadores não conseguiam entender a alma indígena, e a religião ajudou muito a incutir a ideia de que índio não tinha alma. Para os brancos, eles eram facínoras, ladrões de gado e assassinos, que nem da conversão precisavam para se salvarem. 

Os jesuítas contribuíram muito para eliminar a cultura indígena, suas crenças e seus hábitos. Como fazendeiros ou dirigindo aldeamentos, aproveitaram-se da escravidão para subjugar e implantar um deus muito distante daquele cultuado pelos silvícolas. 

Por tudo isso, rendo minhas homenagens a Anfrísio Neto, proprietário da fazenda Abelheiras, outrora uma aldeia dos índios Abelhas, por uma história impecável, recheada de vasto conhecimento sobre o Piauí dos séculos XVII e XVIII, que com seu romance nos ajuda a entender melhor a história de nossos antepassados, dos conquistadores e dos povos que ao longo dos séculos foram sendo massacrados até a extinção.

*****
Eneas Barros, escritor piauiense - nas redes sociais. 

Comentários