A poucos dias de assumir o governo, a vice-governadora, Regina Sousa, falou sobre expectativas com relação ao seu papel à frente do executivo estadual. Regina será empossada como primeira mulher a governar o Piauí no próximo dia 31 de março.
A vice-governadora declarou sua felicidade e preparo com o fato histórico. “Eu me sinto feliz. Será um desafio e tanto, não apenas por ser mulher. Para qualquer um, seja homem ou mulher, assumir um Estado, uma cidade, um país, cuidar da vida do povo, é muita responsabilidade. Estou preparada, pensando em coisas que eu possa desenvolver e que tenham a ver com meu jeito, com minhas metas, com minhas causas”, disse.
Reconhecidamente preocupada com causas sociais, Regina Sousa, que coordena o PRO Piauí Social, disse que vai priorizar os cuidados da população vulnerável. “Eu quero cuidar das pessoas que estão precisando, que são invisíveis e isso, geralmente, não gera notícias, as pessoas não veem. Mas, eu considero a grande obra da minha vida é trabalhar com essas pessoas, que é tudo que tenho feito até hoje”, pontuou.
Quanto à representatividade para as mulheres de estar no cargo máximo do Poder Executivo estadual, a vice-governadora cita a importância do empoderamento feminino. “É importante porque a gente tem uma luta por empoderamento. Então, cada uma que ocupar um espaço é um exemplo para dizer que a mulher pode fazer as coisas, que pode ser governadora, prefeita ou presidenta. As meninas que estão vendo e vão se mirar nesse exemplo, como quem estuda e chega nas faculdades. Cada conquista das mulheres é exemplo para as meninas e outras mulheres para consolidarmos a conquista dos espaços públicos que ainda são muito masculinos, a gente ocupa muito pouco”, disse Regina Sousa.
Além do Piauí, outros dois estados serão governados por uma mulher. No Rio Grande do Norte, a governadora Fátima Bezerra, eleita nas últimas eleições para o cargo; e em Pernambuco, a vice-governadora Luciana Santos assumirá o governo com a saída do governador Paulo Câmara para concorrer nas próximas eleições.
“Já temos a Fátima, governadora no Rio Grande do Norte, agora seremos eu no Piauí e a Luciana, de Pernambuco. Três mulheres governadoras neste resto de ano. São 27 estados e somente uma mulher foi eleita para governadora, ainda é muito pouco. No parlamento, 12% é muito pouco ainda. Agora, se pensarmos que há pouco tempo não tínhamos nada, já foi conquista. Mas, precisa de muito mais. No espaço do parlamento a solução é fazer a quota das mulheres. Os países mais avançados na participação da mulher no poder foi por meio de quotas. A Espanha é o melhor exemplo, lá, até na ocupação dos ministérios, tem paridade, 14 ministros, sete mulheres e sete homens. E ocupam qualquer ministério, não somente de assistência social. Na Argentina, as mulheres ocupam 40%, por quota”, explica a vice-governadora.
A violência doméstica como desafio
Outro assunto explanado pela futura governadora é a violência doméstica contra as mulheres. Foi citado como um desafio, não somente como questão de segurança pública apenas. “É muito da concepção, de construção social na cabeça dos homens ter a posse, serem donos da mulher, eles têm isso na cabeça e acabam acontecendo essas tragédias que a gente vê todo dia. Então, temos que construir juntos a saída. Particularmente, vejo a saída pela educação. Educar os meninos de hoje para não serem violentos, educar para a paz, para não agredir, não querer, não sentir vontade de agredir. Agora, se não são educados, serão influenciados pelo que veem na televisão, na rua, em casa o pai agredindo a mãe ou as irmãs, ele pode crescer uma pessoa violenta. Ou a gente inclui esse assunto com seriedade na educação ou vamos penar durante muito tempo agindo depois da tragédia acontecida, agindo na consequência e não na causa”, disse.
Para Regina Sousa, ocupar um espaço de poder não resolve o problema das mulheres, mas é uma oportunidade que as mulheres podem e sabem fazer tão bem quanto os homens “e que eu vou me esforçar muito para fazer diferente, para fazer meu mandato ser lembrado, não por grandes coisas, mas pelas pequenas coisas que eu fizer para as pessoas. Governar é cuidar das pessoas”.
Participação das mulheres na política
A construção social na qual se entende que o espaço privado é das mulheres e o público é dos homens, é citada pela vice-governadora como empecilho para a maior participação das mulheres na política. “Durante muito tempo quando as mães mandavam as filhas estudar fora, era para fazer economia doméstica, para ser dona de casa. Lembro que muitas colegas foram para Natal (RN) estudar e se prepararem para o casamento, tomar conta da casa. Isso existia há, até, pouco tempo, na minha geração. O menino vai jogar bola na rua, as meninas ficam em casa ajudando a mãe ou brincando de casinha. Tudo isso é construção social. Essa menina pode ser orientada a ir brincar na rua com suas coleguinhas, não? Por que só o irmãozinho pode ir? Isso não se desconstrói fácil”, questiona Regina.
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