Ao ser questionado sobre temas polêmicos, o eleitor brasileiro adota postura conservadora. Esse é uma das principais conclusões da mais recente pesquisa Eleição 2022 do Ipespe, divulgada hoje (25.02). Para resolver questões controversas, o brasileiro prefere o plebiscito. O levantamento também indica que permanece a preferência por Lula (43%) a Bolsonaro (26%).
Segundo a análise do sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, a maioria é contrária à legalização do aborto (69%, em oposição a 29% que são favoráveis) e também não aceita a liberação das drogas (75%; outros 22% são favoráveis).
A agenda conservadora inclui ainda elevado apoio à redução da maioridade penal (72% apoiam, contra 24% contrários). Para o sociólogo, as opiniões ficam mais equilibradas quando se trata da adoção da pena de morte (contrários, 53%; favoráveis, 43%). A liberalização do porte de armas, defendida pelo presidente e seus aliados, é rechaçada pela sociedade: 62% dividem essa opinião, contra 36% favoráveis.
Segundo a pesquisa, a opinião pública apoia a realização de plebiscitos para definir temas controversos. Para o professor Antonio Lavareda, embora uma sólida maioria seja contrária ao aborto, 49% acreditam que a população deveria se pronunciar diretamente sobre a questão, contra 47% que não concordam com isso. O mesmo ocorre em relação às outras questões. O único tópico face ao qual o maior contingente (56%) não admite o plebiscito é a liberalização das drogas. Ainda assim, esse número é bem menor que o dos que são contrários à liberalização (75%).
Em relação à última quinzena, quando foi realizado o levantamento anterior, a pesquisa detectou aumento na percepção (de 27% para 29%) de que a economia caminha “no rumo certo”. E manteve-se em 63% a afirmação contrária -- vai “no rumo errado”. Para Lavareda, esse movimento de recuperação, iniciado em novembro, corre o risco de ser atropelado pelos desdobramentos do agravamento da crise da invasão da Ucrânia iniciada ontem, que "interrompeu a valorização do real frente ao dólar, trouxe ao radar um aumento dos combustíveis, e ameaça frustrar as projeções de queda mais rápida da inflação".
A avaliação do governo Bolsonaro também oscilou positivamente (um ponto percentual), atingindo 25% para as opiniões de que seu desempenho é ótimo ou bom. De outro lado, os que avaliaram o governo como ruim ou péssimo recuaram para 53%, na mesma proporção (um ponto percentual).
A aprovação ou desaprovação do governo praticamente não mudou (31% aprovam; 63% desaprovam -- a aprovação foi exatamente igual à da última pesquisa, enquanto a desaprovação caiu um ponto).
“À medida que cai o medo da pandemia, a aprovação específica do presidente Bolsonaro nesse tema sobe um pouco", continua Lavareda. Aqui, ó “ótimo/bom” vai de 23% a 25%. O percentual dos que disseram estar com “muito medo” caiu sete pontos, de 30% para 23%. A reprovação cedeu menos, de 57% para 56%.
No front eleitoral, Lula segue liderando o primeiro turno, com os mesmos 43% da rodada anterior. Bolsonaro colhe as alterações positivas vistas nos tópicos anteriores. Galgou um ponto e atinge 26%.
Lavareda comenta que, no segundo pelotão, Moro aparece estabilizado, desde janeiro, com 8%. Mas figura nessa pesquisa sozinho em terceiro lugar, uma vez que Ciro perdeu um ponto e tem agora 7%. No terceiro contingente, vem à frente João Doria, mantendo-se com 3%, e Felipe D’Ávila, Simone Tebet e Janones, com 1% cada um, a mesma fatia de Eduardo Leite, de volta à lista uma vez, em meio à especulação de sua saída do PSDB.
Lula continua ganhando dos nomes testados no segundo turno: 54% a 32% contra Bolsonaro, que sobe um ponto em relação à quinzena anterior; 52% a 31% tendo como adversário Moro; 51% a 25%, com Ciro; 54% a 18%, diante de Doria; e 55% a 17%, enfrentando Eduardo Leite.
“O desempenho de cada candidato nas pesquisas é balizado de um lado pela rejeição dos eleitores e, de outro, pelo potencial de votos que possuem, ou seja, a soma dos que respondem que votariam ´com certeza´ ou ´poderiam votar´ neles", explica Lavareda.
Para ele, é dessas fatias do mercado eleitoral - onde há muita superposição de atitudes positivas - que os postulantes extraem suas intenções de voto. “Sem esquecermos que aqueles com elevada taxa de desconhecimento, ou grande rejeição, competem em segmentos bem menores", completa.
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