O piloto que levou em 2011 o então vice-presidente Michel Temer e sua esposa, Marcela Temer, para Comandatuba (BA) a bordo de um avião do empresário Joesley Batista confirmou a versão do delator da JBS sobre a viagem.
Em entrevista ao jornal O Globo, José de Oliveira Cerqueira disse ter entregado pessoalmente a Marcela um buquê de flores assim que ela entrou, acompanhada do marido e do filho, no Learjet PR-JBS. Ele afirmou que contou ao casal que as flores eram um presente da mãe do empresário, Flora Batista.
“Me mandaram entregar as flores no avião. A própria empresa me orientou a informar que quem enviou foi dona Flora”, declarou o comandante ao repórter Thiago Herdy.
A declaração do piloto contraria a última versão dada por Temer sobre o episódio. Depois de, inicialmente, negar ter voado na aeronave, o presidente confirmou o voo, mas ressaltou que não sabia quem era o proprietário do avião.
Joesley contou à Procuradoria-Geral da República que o peemedebista sabia que o Learjet era dele e que lhe telefonou para agradecer pelas flores e pedir o contato de sua mãe para manifestar a ela sua gratidão pela gentileza.
Ciúme
O empresário disse que foi ele o responsável pelo envio do buquê, mas que atribuiu o presente à sua mãe para evitar que o então vice-presidente ficasse enciumado. O piloto confirmou essa versão ao Globo. Cerqueira disse que deixou de prestar serviço para a JBS ainda em 2011 e que nunca mais teve contato com Joesley.
Temer voou na aeronave de São Paulo até o litoral baiano em 12 de janeiro de 2011. Na tarde do mesmo dia o levou até Brasília. Dois depois, o avião foi da capital paulista para a Bahia buscar a família do peemedebista.
O piloto, que tem 33 anos de experiência, afirmou que não tem lembrança de detalhes da viagem: “Aconteceu há mais de seis anos, isso é muito tempo”. “Sempre que tem um voo, nós tripulantes ficamos sabendo muito em cima da hora quem são os passageiros. Nesse, foi do mesmo jeito. Então, eu não posso afirmar o que o presidente e a família sabiam, o que se falou dentro do avião, porque a gente não tem esse acesso”, declarou.
Cerqueira confirmou o episódio das flores citado pelo empresário em sua delação premiada. “O que posso te dizer é que teve as flores. Não comprei, mandaram entregar lá. Fiz o que a empresa me mandou fazer. Isso tudo que o Joesley falou é verdade”, afirmou o piloto.
Ex-ministro da Agricultura
Na última versão apresentada, a assessoria do presidente alega que ele não fez a ligação porque não sabia quem era o proprietário da aeronave. Joesley disse, em sua delação, que mantinha relacionamento estreito com Temer desde 2010, quando foi apresentado a ele pelo então ministro da Agricultura, o peemedebista Wagner Rossi. O diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, outro delator da JBS, assessorou Rossi nessa época.
Joelsey disse que passou a atender a pedidos de contribuições financeiras e favores do então vice-presidente. A conversa gravada pelo empresário, em que confessa a prática de crimes a Temer, rendeu ao agora presidente a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). O peemedebista não nega o teor da conversa e diz que não tomou qualquer providência em relação aos crimes admitidos pelo empresário por considerá-lo um “falastrão”.
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