A biodiversidade brasileira oferece recursos que podem ser utilizados em benefício à saúde humana. Foi com essa intenção que o Prof. Dr. Gerardo Magela, docente do Curso de Química, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), iniciou pesquisas com anfíbios. Dentre os animais estudados estão os sapos da espécie Rhinella marina e Rhaebo guttatus, encontrados no bioma amazônico, e o Rhinella jimi, localizado na região da caatinga. O estudo que se baseia na coleta de veneno, visa analisar os potenciais biológicos presentes nas substâncias excretadas pelos sapos, para posteriormente desenvolver medicamentos.
Segundo o Prof. Magela, o veneno tem substâncias que combatem células cancerígenas. "No veneno que foi coletado, nós podemos verificar atividade biológica, como por exemplo, a citotóxica, ou seja, a capacidade de destruir outras células que se encontram infectadas", frisou.
A Pesquisa
Iniciada durante a estadia do docente na Universidade Federal do Matogrosso (UFMT), em 2011, as espécies Rhinella marina e Rhaebo guttatus, foram escolhidas mediante a abundância nos biomas da Amazônia e do Cerrado, vegetações presentes no Estado do Mato Grosso. "Na captura dos sapos, nós contamos com a ajuda de herpetólogos (profissionais que estudam répteis e anfíbios), eles têm autorização do IBAMA para poder capturar estes anfíbios. Depois de recolhidos os animais, já no laboratório era exprimida as glândulas paratóides para a retirada do veneno. Após a coleta das substâncias, os sapos eram devolvidos a natureza", afirmou.
Prof. Dr. Gerardo Magela é docente do Curso de Química da UFPI
Durante a extração de veneno chega a se utilizar em torno de cem sapos. "No laboratório o veneno passa por um processo de secagem. Com o auxílio de determinado solvente, as substâncias são extraídas do veneno, produzindo um extrato seco. A partir do extrato é possível analisar as atividades biológicas, averiguando, portanto o potencial do extrato, para posteriormente poder analisar as substâncias de forma isolada. O extrato foi testado em células de glioblastoma, células cancerígenas do sistema nervoso central, carcinoma de ovário e colo do útero. Nós podemos detectar por meio destas análises, que as substâncias encontradas no veneno eram mais potentes que controle positivo, a doxorrubicina, um medicamento utilizado em quimioterapia", destacou. No momento a pesquisa segue na fase de testes em camundongos.
Não só as células cancerígenas viriam a sofrer ação com o extrato de veneno, mas também células do músculo cardíaco. "Também foi feito teste na aorta de ratos, e nós percebemos que esse extrato tem uma atividade nesse músculo cardíaco, o que pode ser produzido futuramente medicamentos para insuficiência cardíaca. Na atualidade existem remédios com substâncias muito parecidas com o veneno de sapos, por isso que acabamos chamando as substâncias de glicosídeos cardioativos, pelos efeitos semelhantes a estas drogas", pontuou.
Além do estudo com as espécies citadas, o conhecimento popular também se vale para o desenvolvimento de pesquisas. O professor conta que um hábito de tribos indígenas ao utilizar venenos de pererecas, a espécie Phyllomedusa camba lhe despertou interesse. "Eles recolhem o veneno deste animal e injetam no corpo. De acordo com relatos dos próprios indígenas, a substância teria efeito curativo. Essa ação me chamou atenção como pesquisador, porque ao injetarem o veneno, a temperatura corporal e os batimentos cardíacos aumentam, então é necessária a comprovação científica que prove o benefício de tal ingestão", comentou.
Piauí com potencial em desenvolver medicamentos
Em apenas cinco meses de pesquisa realizada no Piauí, o sapo-cururu (Rhinella jimi) também tem potencial para o desenvolvimento de futuros fármacos. "Essa espécie ela é encontrada principalmente na caatinga, bioma presente no Piauí. Apesar da pesquisa ainda estar nos primeiros passos, nós já coletamos o veneno pela região da cidade de Picos com o auxílio de uma herpetóloga. A literatura científica já aponta que o veneno tem atividade biológica contra células cancerígenas e também tem potencial para futura obtenção de medicamentos para o tratamento de Leishmaniose e Doença de Chagas", comentou. Na UFPI, o Prof. Magela promove a pesquisa juntamente com o aluno do quinto período em Química, Evaldo Monção.
Além das pesquisas com sapos, o professor realiza pesquisas com bioprospecção em produtos naturais, isto é, explora os recursos genéticos e bioquímicos nas plantas da região. O estudo já rendeu prêmios e menções honrosas, entre eles o conquistado no Top Ciência da BASF 2015.
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