Amanda (12), aluna do sexto ano, adora música e sonha em aprender a tocar piano e violão. Amissandra é fã de Bruna Carla. Inspirada na cantora, ela não pensou duas vezes ao saber que a escola teria um coral: “Vou participar!”, decidiu a garota. A aba reta do boné e a calça estilizada de João Marcelo (12), estudante do sexto ano, escondem um dos coralistas mais animados do grupo. São todos alunos da Unidade Escolar Raimundo Portela, localizada no bairro são Cristóvão. Em comum, o gosto pela música. Sob a batuta do maestro Beetholven Cunha, os três fazem parte do Coral Vozes do Sertão, que iniciou suas atividades na escola apenas em maio deste ano, mas que vem dando um novo tom ao colégio.
Os ensaios acontecem às sextas-feiras. É embaixo da sombra da mangueira plantada nos fundos da escola, que os jovens cantores vão se organizando aos poucos. Depois da prova de matemática é chegada a hora de fazer uma das coisas que mais gostam: cantar.
“Eu acho muito gratificante estar aqui. A gente aprende muito fazendo coisas maravilhosas além de cantar. A minha mãe está super alegre, entusiasmada. Toda vez que eu chego da escola ela me pergunta como foi o Coral, quando vai ter as apresentações. Disse que quer assistir muitas vezes. Eu estou muito ansiosa”, confessa a tímida Amissandra (15), estudante do sétimo ano.
Atuando em 23 colégios da rede estadual de ensino, na capital, o programa Canto Coral na Escola é responsável por levar música erudita, trabalhando também o repertório folclórico brasileiro, para milhares de jovens alunos. Onze maestros são responsáveis por realizar o trabalho durante todo o ano. O projeto é uma iniciativa do Governo do Estado, executado por meio de suas secretarias estaduais da Cultura e Educação.
A ideia de levar música coral para a rede pública de ensino nasceu quando o maestro Emanuel Coelho Maciel criou o Coral das Mil Vozes, com o intuito de fomentar a música como processo de educação. Vinte anos depois, o Mil Vozes se consolidou como uma das principais atividades culturais do período natalino teresinense e, a cada nova temporada, leva um público cada vez maior ao adro da Igreja de São Benedito.
O tempo passou e o projeto cresceu. Hoje, as atividades do Canto Coral não são voltadas apenas para a apresentação de fim de ano. Na verdade, os regentes possuem seus corais independentes, ensaiam seu próprio repertório, utilizando sua própria técnica de ensino, e aí, no final do ano, juntam as turmas para a apresentação. Essa apresentação é apenas o resultado do processo.
Para o maestro Beetholven Cunha, o ensino musical na escola deve ser estimulado, já que esse é o principal espaço para a formação de cada indivíduo. “Eu tive experiências deliciosas com a pratica musical dentro da escola. Não existe outro ambiente mais propício, música tem que ser na escola. É o único lugar que pode formar o indivíduo, fora o lar. Tem que ter essa combinação da casa com a escola. Muitos dos alunos que eu tive hoje estão nos Estados Unidos, Alemanha, em outros lugares vivendo da música. Foi a música que tirou eles de uma realidade infeliz. Não só a música, mas a arte em geral. Tem que ter arte na vida.”, conta o maestro.
O objetivo do maestro é expandir o projeto também pelo interior do estado já em 2016. “Já realizei um trabalho similar em água Branca, com o coral de lá, e fizemos algumas viagens pra Minas e São Paulo. Um coral excelente, do interior, e eu quero resgatar esse projeto. A gente tem que parar com essa coisa do estado (Piauí) ser a terra do teve e ser a terra do ter.”, destaca Beetholven Cunha.
Para a diretora da escola, as atividades são um atrativo para os alunos, já que a aula tradicional, mesmo com a tecnologia moderna, não prende a atenção da garotada totalmente. “É importante fomentar esporte, a arte e a cultura nas escolas. O Canto Coral trouxe uma mudança significativa para nossa escola. Os alunos mais indisciplinados tendem a melhorar mais o comportamento dentro da sala de aula a partir do momento em que começam a participar dos programas de coral, música, dança e esportes.”, comenta a diretora.
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