Encontrar algum indício de vida em outros planetas ou encontrar vestígios da presença do homem pré-histórico na terra são duas coisas que sempre atraíram a atenção de pesquisadores de todo o mundo. Aliando estes dois desejos com a tecnologia, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) destaca-se no cenário científico mundial como sendo a única universidade brasileira a possuir o MIMOS II, um equipamento inicialmente envolvido em pesquisas desenvolvidas pela NASA, agência espacial americana, para analisar os componentes do solo de Marte. Na UFPI, o espectrômetro é utilizado pelo Prof. Dr. Luis Carlos Duarte Cavalcante, Coordenador do Laboratório de Arqueometria e Arte Rupestre (LabAAR) e atual Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, para realizar a caracterização químico-mineralógica de materiais arqueológicos oriundos de sítios pré-coloniais do Piauí e de outros estados brasileiros.
Desenvolvido pelo Dr. Göstar Klingelhöfer, pesquisador da Universidade de Johannes Gutemberg (JGU), da cidade de Mainz, na Alemanha, e com características iguais ao equipamento que se integrou aos dois robôs espaciais que foram para Marte em 2003, na missão Mars Exploration Rovers, o MIMOS II da UFPI é um espectrômetro Mössbauer miniaturizado, que opera fundamentalmente pela emissão e absorção ressonante de radiação gama, sem perda de energia por recuo do sistema emissor-absorvedor, que utiliza o isótopo 57 Fe como sonda.
Segundo o professor Luis Carlos, no processo de análise das amostras, uma fonte radioativa no MIMOS II emite radiação gama, que entra em contato com os materiais que se deseja investigar. A radiação incidente interage com o filme de tinta da pintura rupestre do sítio arqueológico e após esse processo parte dessa radiação retorna para o equipamento. Nesse retorno os dados da composição químico-mineralógica dos materiais são detectados e enviados para a memória de um computador. O tratamento matemático posterior desses dados possibilita identificar as fases minerais que constituem a camada de tinta.
Desenho esquemático do MIMOS em atividade
"O MIMOS II pesa cerca de 400 gramas e cabe na palma da mão. O equipamento da UFPI é utilizado para analisar pinturas rupestres tanto em laboratório quanto diretamente nos sítios arqueológicos. Além da análise de finíssimas camadas de tintas de pinturas rupestres pré-históricas, o espectrômetro analisa, também, outros tipos de materiais, como por exemplo, paleossedimentos, cerâmicas arqueológicas, pigmentos minerais resgatados de sítios pré-coloniais, nanofilmes, materiais sintéticos contendo ferro, geomateriais, entre outros tipos de amostras", explica o Prof. Dr. Luis Carlos Duarte Cavalcante.
O espectrômetro Mössbauer miniaturizado adquirido pela UFPI em 2012, por meio de Projeto FINEP - CT - INFRA em associação com os Programas de Pós-Graduação em Arqueologia e Química, possibilitou parcerias com outras instituições de pesquisa do Brasil e do exterior.
"Temos parcerias consolidadas com o Professor Dr. José Domingos Fabris, docente aposentado e atualmente voluntário do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, Belo Horizonte) e Visitante Sênior da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM, Diamantina). Temos também parceria com o Prof. Dr. José Domingos Ardisson, do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN, Belo Horizonte), instituição referência na América Latina. Mantemos colaboração com pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), bem como com o próprio inventor do espectrômetro Mössbauer portátil, Dr. Göstar Klingelhöfer, do Instituto de Química Analítica e Inorgânica da Universidade de Mainz", explica.
O MIMOS II da UFPI é utilizado tanto na Graduação quanto na Pós-Graduação em Arqueologia, na linha de pesquisa em Arqueometria (campo do conhecimento que utiliza as ciências naturais e exatas na investigação de materiais arqueológicos).
"Com o MIMOS II nós conseguimos investigar uma ampla diversidade de materiais arqueológicos, geomateriais e materiais sintéticos (entre outros), aspecto que tem gerado parceiras com os Departamentos de Física, de Química e de Arqueologia; e com os Programas de Pós-Graduação em Química e em Arqueologia. Com o equipamento tivemos cinco setores da UFPI beneficiados com essa técnica espectroscópica nuclear", esclarece.
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