O projeto de alunos do Centro Estadual de Educação Profissional de Tempo Integral Cândido Borges, localizado em Campo Maior, acabou transformando a escola em uma referência na iniciação científica na rede pública do Piauí. Três estudantes se uniram com a intenção de mudar a realidade de sua cidade e acabaram abrindo as portas para o mundo dos inventos e da pesquisa tecnológica.
A história começou em 2011, com a iniciativa da aluna Jucimary Paixão Macedo, que tinha vindo da cidade de Laranjal do Jari, no Amapá, para cursar o Ensino Médio em Campo Maior. O colégio que ela frequentava já tinha uma tradição de incentivar os estudantes a participar de eventos científicos. “Quando eu cheguei aqui, notei que os alunos não se identificavam muito com isso. Foi quando vi um cartaz da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) e convidei meus amigos para participar também”, lembra. Foi então que Isauira Ximenes e Wanderson Barbosa, ambos de Campo Maior, entraram na empreitada.
Em seguida, o trio partiu para a sensibilização da direção e professores em busca de apoio. A princípio eles pensaram em trabalhar em algo que envolvesse o açude Grande, localizado no Centro da cidade, e conscientização ambiental, mas acabaram por buscar soluções para outro problema que também merece muita atenção: a baixa umidade do ar e o calor que assolam a cidade. “Foi assim que criamos o projeto ‘Chega de Calor’. Começamos pesquisando na internet como fazer um ar-condicionado caseiro e chegamos a um modelo próprio baseado em um pote de sorvete com a ajuda do nosso professor de Física”, conta Isauira. Em seguida, foi a vez da professora Beatriz Dias Coutinho, de Biologia, tornou-se a orientadora do trio.
O primeiro protótipo utilizava dois coolers e um filtro. Novas ideias foram surgindo e o projeto cresceu de tamanho partindo para um vasilhame de plástico maior e finalmente uma caixa de madeira com três coolers e uma estrutura que envolve dois filtros e cobre oco por onde a água passa. A ideia é fazer com que o aparelho disperse gotículas de ar no ambiente e ajude a aumentar a umidade do ar, diminuindo a temperatura. O material, praticamente todo reciclado torna o invento uma alternativa barata e utilizável em espaços públicos como escolas e hospitais.
Através do projeto, os jovens representaram o Piauí na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) em São Paulo, em março de 2012 e ganharam o primeiro lugar na categoria Iniciação Científica, ainda com o primeiro protótipo. Em setembro do mesmo ano, o projeto, com dois filtros, bomba de aquário e o suporte de compensado, foi apresentado na Feira Nordestina de Ciência e Tecnologia e faturou o terceiro lugar em Engenharia Geral. No último mês de outubro, eles foram à 27ª edição da Mostra Brasileira e Internacional de Ciência e Tecnologia e ficaram em quarto lugar em Engenharia Mecânica concorrendo com projetos de vinte países.
Agora, Jucimary e Isauíra, que continuam no projeto e atualmente fazem os cursos técnicos de Suporte e Manutenção em Informática e Administração, respectivamente, levarão o Chega de Calor para a 11ª edição da Febrace que acontece entre os dias 12 e 14 de março na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). As duas jovens e sua professora irão viajar com o apoio do Governo do Estado do Piauí, através da Secretaria Estadual da Educação.
“Esse projeto é um motivo de orgulho e é de nosso interesse que uma iniciativa leve o nome do nosso Estado país afora”, declarou o secretário estadual da Educação Átila Lira.
Mudança
A iniciativa pioneira das estudantes acabou motivando o corpo docente e a direção do Ceepti Cândido Borges, que adotaram novas práticas na escola.
“Foi fato muito positivo porque os outros alunos se sentiram incentivados a criar outros projetos”, conta a professora Beatriz Coutinho. A iniciativa contaminou inclusive a diretora da unidade, Roseana Ibiapina, que acabou adotando novas práticas no colégio. “Acabamos criando a disciplina de Iniciação à Pesquisa Científica, que não estava na nossa grade regular. As aulas são ministradas uma vez por semana”, orgulha-se.
As aulas de IPC acabaram revelando novos talentos. “Temos vários alunos que já estão com projetos muito interessantes e que se preparam para participar de outras feiras de ciência”, diz a diretora.
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