Esta semana vivemos um sentimento muito peculiar: milhões de brasileiros se uniram em torno de um sentimento bom, como não fazíamos há muito tempo. As razões para esta união foram paixões nacionais sedimentadas na nossa cultura: carnaval e cinema nacional, com um gostinho de copa do mundo.
Depois de tantos anos divididos, a maior parte dos brasileiros se uniu para torcer por esta avalanche que foi o Filme Ainda Estou aqui e a nossa querida atriz Fernanda Torres, junto com Selton Mello, Walter Salles e equipe. Trouxemos o ouro para casa. Depois de seis meses de uma campanha incansável em inúmeros festivais pelo mundo, nosso filme ganhou mais 40 premiações, dentre elas, o de melhor atriz de drama no Globo de Ouro e agora o de Melhor Filme Internacional no Oscar.
É bem verdade que gostaríamos de ter trazido as três estatuetas correspondentes às categorias para as quais o filme foi indicado, que se estendiam ao de Melhor Atriz e de Melhor Filme. No entanto, para a nossa surpresa, mas não para a surpresa de críticos de cinema, a bem verdade é que a Academia escolheu um filme com uma temática muito apegada aos seus valores para ser premiado da noite – Anora.
Anora conta a história de amor de uma jovem stripper que se casa com um herdeiro de um oligarca russo e é obrigada a se separar dele quando a família descobre, sendo a trama recheada de nudez e sexo explícito.
Bom, qualquer relação com a crítica que nos traz o Filme A Substância, com a também concorrente Demi Moore, que sequer foi citada durante a cerimônia, não é mera coincidência. A Academia preferiu dar a premiação a uma atriz norte-americana de 25 anos que usou todo o seu potencial sedutor em vez de premiar as veteranas Demi Moore ou Fernanda Torres, que brilharam nas telas em 2024 e mereciam ter levado o prêmio de melhor atuação.
Voltando à realidade do Filme Ainda Estou Aqui, é importante lembrar também que os Estados Unidos foram parte real do apoio à Ditadura Militar nos anos de chumbo. Tendo em vista este cenário, é preciso levar em conta que os votantes do Oscar são 67% ainda homens, 80% pessoas brancas (dados divulgados em 2020 pela própria Academia) e até 2012, a idade média dos votantes era de 62 anos. Acho que eu não preciso discorrer mais do que isso, ainda mais levando em consideração o cenário político que vivemos hoje.
Historicamente o Oscar não é sobre os melhores, é sobre política, sobre estereótipos e arquétipos. O Oscar não é a melhor premiação do mundo. É a mais famosa, a mais divulgada. Ponto. Mas o Oscar coloca no mapa muitas produções que porventura não teriam tanta repercussão, como Anora, que até pouco tempo quase ninguém falava e hoje está bem divulgado.
O certo, caros leitores, é que o majestoso Ainda Estou Aqui é um sucesso de público e de crítica, sendo consagrado por críticos de cinemas no mundo todo. Nós já sabíamos que a nossa produção era de ponta, mas agora estamos em cartaz pelo mundo. Eles querem saber quem é o Cinema Brasileiro. Quem é o Brasil de fato.
Durante seis meses em que esta equipe esteve fora do Brasil em campanha por diversos festivais anunciando o Brasil pelo mundo, foi muito mais que promover um filme. Mas nosso verdadeiro prêmio é levar o legado do cinema brasileiro com eles, do amor que temos desde as telenovelas até nossos filmes (e nossa cultura em geral) com orçamento muito aquém de grandes produções de Hollywood. É levar a história do nosso país de uma forma sensível e honrar tantos que passaram por este período tenebroso. É unir todos em um coração. Esse é nosso verdadeiro prêmio. Aqui é o Brasil. Ainda estamos aqui.
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