O que é pior do que planejar e executar um golpe de Estado para ficar no poder após perder as eleições? Para uma parte significativa do eleitorado, roubar joias ou usar grana dos cofres públicos para bancar seus luxos e necessidades pessoais.
Denunciado por tentar transformar de forma violenta a democracia em geleia, Bolsonaro pode ter uma dor de cabeça ainda maior quando vierem as denúncias que tratem do surrupio das joias doadas ao Brasil pelos árabes ou o uso do cartão corporativo da Presidência.
Defesa da democracia, apesar de ser fundamental, não ganha eleição, é muito etérea nas prioridades da grande maioria, que quer ver como governantes vão melhorar suas vidas. Mostrar que o adversário roubou para proveito próprio, tirando grana que poderia ser usada para outras demandas públicas tem mais potencial. Quem discorda disso, não vê muito além de sua própria bolha.
Ser acusado de “ladrão de joias” é bem mais palpável do que “golpista” para uma parcela da população que votou em Bolsonaro, mas não é seu fã (já os seguidores radicais acreditam em absolutamente qualquer coisa). O grupo que acreditou na narrativa de que Jair era um homem “honesto” e estava acima da corrupção ou que, ao menos, acreditava estar apoiando o “mal menor” pode ser impactado com a história das joias.
Tanto o esquema de pegar as joias doadas ao patrimônio brasileiro e vender para pessoas ricas ou em lojinhas do tipo “Compro Ouro” nos EUA, embolsando a grana ao final, quanto o que envolveu bancar os luxos da então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e necessidades políticas de Jair usando ilegalmente o cartão corporativo da Presidência da República, quebram a imagem de retidão que ele tenta passar. E atingem sua capacidade de ser cabo eleitoral para terceiros.
Claro que, para o cidadão Bolsonaro, ser réu por tentativa de golpe é bem pior do que por roubo porque isso pode levá-lo à cadeia por décadas. E ele já demonstrou que não tem a mesma estrutura psicológica que outros políticos que foram presos para suportar a cana. Preso por golpe, pode se vitimizar como mártir. E preso por roubar joias ou por usar a grana do povo, via cartão corporativo, para pagar o pet shop da esposa?
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Leonardo Sakamoto é jornalista e colunista do Uol.
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