Gosto de roçar a minha língua por livros sagrados de muitas religiões, e louvo (verbo religioso) a energia linguística de teologias bem escritas, bem imaginadas. Em nosso lado ocidental, não dá pra ignorar, por exemplo, São Thomás de Aquino e Santo Agostinho. E quando chegamos à língua portuguesa, o jesuíta Antonio Vieira dá um show de perícia verbal, seus sermões são inspirados e com esperta rotação de tropos de linguagem. um bom sermão vale por sua construção, e, claro, seus efeitos de persuasão, que podem atingir ou não crentes e dispostos.
Pensei nisso por conta da cerimônia religiosa nessa terça-feira, 21 de janeiro, em Washington, como parte da posse do autoproclamado dono do mundo, em que a reverenda Mariann Budde, da Igreja Episcopal de Washington, sermoniou de forma corajosa e contraditando pontos perigosos do programa de governo do capeta (imagem religiosa) que subiu ao Capitólio. O sermão da bispa em si não teve grandes torneios retóricos, mas foi contundente humanitariamente. Deixou o “Trompe l’oeil” sem graça, e furioso quer agora que ela peça desculpas, em comportamento típico de autocratas que não aceitam nada lhes contrariando. E a tal liberdade de expressão, só serve quando é para tentação do cão?
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Feliciano Bezerra é professor doutor da Uespi - nas redes sociais.
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