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Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
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Iane Carolina

Iane Carolina

contato@acessepiaui.com.br

05/12/2024 - 10h56

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Iane Carolina

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05/12/2024 - 10h56

Sabemos lidar com o NÃO?

 

 

Esta semana presenciamos o caso emblemático da mulher que foi filmada dentro de uma aeronave por não querer ceder seu assento para uma criança. A mãe, com a criança chorando no colo, resolveu expor a passageira em vídeo na internet, após a negativa da mesma em ceder a cadeira ao lado da janela.

Até parece mais um vídeo que viralizou nas redes sociais e que daqui a pouco será substituído por outro vídeo que ganhará a corrida dos algoritmos. Mas a situação envolve muito mais do que imaginamos: envolve direitos, respeito, exposição indevida e a necessidade de nós, enquanto indivíduos e sociedade, aceitarmos o não.

Um assento de avião é comprado ou definido pela companhia aérea, portanto, ninguém é obrigado a cedê-lo, mesmo que seja a uma criança aos prantos. O único motivo que obriga um passageiro a mudar de lugar é a necessidade de garantir a segurança do voo em casos de saída de emergência. Se a pessoa não estiver apta a manusear os dispositivos em casos de evacuação, ela é obrigada a trocar de assento, do contrário, seu direito à cadeira que escolheu é mais que assegurado.

A mãe da criança também desrespeitou o direito à privacidade e de imagem da passageira quando a filmou e expôs sua imagem na internet. Sem querer me alongar, isso cabe facilmente um processo cível, tanto em relação à pessoa que a filmou quanto à companhia aérea que não interveio, tendo em vista que as regras de transporte aéreo são diferenciadas para garantir a segurança do voo.

Mas o cerne de tudo isto é que estamos cada vez menos lidando com o não. Gostaria de me poupar da opinião de como pais e mães devem educar seus filhos, mas culturalmente o não tem sido renegado em nossas vidas.

Décadas atrás ouvimos o não como traço forte em nossa educação e ainda assim na fase adulta não conseguimos lidar com muitas situações da vida, a exemplo de  um relacionamento amoroso que vai mal e que toma uma proporção gigantesca em nossa psique.

Se uma criança não aprende a lidar com a negativa de um assento, seja em um voo, seja na sala de aula, no ônibus ou em qualquer outro lugar, como ela irá lidar com as negativas na fase adulta?

Até a década de 80, 90, recebemos o não facilmente em nossas criações e até hoje as taxas de feminicídio são gritantes. Muitas mulheres não conseguem terminar um relacionamento ou se separem de seus maridos porque têm suas vidas ceifadas. Na rua, se uma mulher diz não a um homem, ela passa de gostosa a puta em uma fração de segundos. Essa é uma inabilidade entristecedora de lidar com o não.

Sim, quero me aprofundar nesse tipo de reflexão! Porque os limites que aprendemos na infância formam a capacidade que temos de lidar com as adversidades quando estamos na vida adulta. E elas são diversas e complexas. O não também serve à mulher que termina um relacionamento e que precisa superar com maturidade, sabendo que há luz no fim do túnel.

É sobre ter metas e objetivos na vida, como entrar em uma faculdade, conseguir um emprego, ter uma casa aos 25 ou 30 anos… e se você não conseguir, tudo bem… o mundo não acabou, vida que segue.

O não estará presente em todas as fases da vida e precisamos aprender a lidar com ele. Inclusive temos que aprender a dizer não e prezar pela nossa saúde física e mental, sabendo estabelecer limites e priorizar nosso conforto e bem-estar.

Saber lidar com o não pode, no futuro, diminuir os casos de violência doméstica e feminicídio, assédio moral, assédio sexual, problemas com autoestima, dentre outras diversas situações que hoje, como adultos funcionais, não conseguimos lidar por não sabermos enfrentar a realidade do cotidiano, de que nem tudo o que queremos e desejamos nos é dado.

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