Essa advertência é do poeta Carlos Drummond de Andrade. Na vida, somos levados, diariamente, a afastar os obstáculos ou, então, superá-los, removê-los, transpô-los. E não é apenas uma pedra, são várias, um monte, montanhas, muitas delas íngremes. São as dificuldades que todos temos que enfrentar, não importa a condição social, a raça, o sexo... 

Há sempre pedras no meio de nosso caminho. Algumas vezes, entramos num beco sem saída, pelo menos pensamos nisso. Quando me encontro nessa situação, como já descrevi em algum lugar, levanto a cabeça para cima e pergunto para mim mesmo: "E, agora, Lourival, o que você vai fazer"? 

Obstáculos são problemas. E todo problema tem solução por mais complexo e difícil que seja. Somente uma coisa não se constitui um problema: a morte. Razão pela qual não devemos nos preocupar com ela. Não pode ser encarada como uma pedra em nosso caminho. A morte representa a certeza e as outras coisas, as incertezas. 

Não é muito difícil lidar com as coisas incertas, pois fazem parte de nosso dia a dia. Até mesmo as coisas que julgamos ter certeza não são de todo seguras. Eis porque acertamos, erramos, caímos, levantamos, derrubamos obstáculos que pareciam intransponíveis, esmorecemos, tomamos coragem, acreditamos, negamos... 

Eu costumo comparar o nosso viver com uma corrida com barreiras, em que o atleta para chegar à marca da corrida salta vários obstáculos. Não falo apenas de quem chega à frente, embora haja os mais preparados, falo de quem chega, mesmo daqueles que derrubam as barreiras, caem, levantam-se e continuam correndo até o ponto de chegada. 

É muito mais emocionante, quando o atleta cai, levanta e consegue chegar à frente, como aconteceu com a atleta holandesa nos 1500 metros, na última olimpíada. "Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas", lembra o poeta. 

Quando chegamos à velhice, esta é a reflexão que fazemos: "Tinha uma pedra no meio do caminho". É por isso que o pretérito (passado) pode ser imperfeito. Muito mais do que perfeito.

*****
Lourival Lopes Silva - professor do IFPI - nas redes sociais.