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Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
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13/08/2024 - 15h20

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13/08/2024 - 15h20

Telefonema Inesquecível

 

Ex-ministro da Fazenda e embaixador, Defim Netto, faleceu nessa segunda, 12 de agosto

 Ex-ministro da Fazenda e embaixador, Defim Netto, faleceu nessa segunda, 12 de agosto

1976. Eu era estudante e Delfim era embaixador em Paris, nomeado por um general com poder de vida e morte sobre os opositores políticos. 

Aldo Arantes, Haroldo Lima e Vladimir Pomar estavam sendo torturados em São Paulo. 

Liguei para a Embaixada. Apresentei-me como empresário israelita, íntimo do Embaixador. Não lembro o nome que inventei. Deu certo, ele atendeu.

“Se não pararem de torturar Aldo, Haroldo e Vladimir, vou te dar um tiro na barriga”.

Desliguei e me afastei morrendo de medo, mas sem pressa, da estação de metrô Odeon.

Na época, o “Chacal” deixava as capitais europeias atemorizadas. Sua atuação estigmatizava a resistência democrática latino-americana. Ajudava a “legitimar” governos sanguinários.

Mas, naquele telefonema, senti-me meio “Chacal”. Foi a reação de um atordoado diante da bestialidade. Obviamente, eu não daria tiro na barriga de ninguém.

1989. Eu analisava a seca nordestina no grande expediente da Câmara dos Deputados. 

Passei em revista a política da Ditadura para o Nordeste. Apontei o mal uso dos incentivos fiscais, o clientelismo desbragado, a manipulação estatística, a propaganda demagógica, a penúria renitente dos trabalhadores rurais e o uso despudorado dos sem-arrimo para a ocupação desastrada da Amazônia.

Delfim ouviu-me atentamente, sem apartear.

Quando eu desci da tribuna, disse-me ter gostado da análise sobre a criação extensiva de gado bovino e perguntou se eu acreditava mesmo na possibilidade de industrialização onde faltava água. 

Respondi que uma média pluviométrica de 600mm anuais não desqualificaria o sertão nordestino como área apta para a agricultura e atividades manufatureiras. 

Formou-se uma pequena roda, que incluía Haroldo e Aldo. No ambiente descontraído do plenário, perguntei se ele lembrava da ameaça que recebera quando era embaixador.

Ele me olhou espantado. Certas telefonemas são inesquecíveis. 

Manifestei minha alegria por estarmos todos vivos.

2024. Não comemoro a morte de Delfim nem vejo motivos para esquecer a ditadura ou dourar sua ação funesta.

*****
Manuel Domingos Neto é parnaibano, Doutor em História pela Universidade de Paris - nas redes sociais. 
 

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