Facebook
  RSS
  Whatsapp
Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Colunas /

Cultura

Cultura

cantidiosfilho@gmail.com

24/07/2024 - 05h53

Compartilhe

Cultura

cantidiosfilho@gmail.com

24/07/2024 - 05h53

Paulo Machado

 

Paulo Machado se fez advogado, professor, historiador, principalmente, poeta.

 Paulo Machado se fez advogado, professor, historiador, principalmente, poeta.

Uma manhã, depois de uma aula de literatura, fui abordado por um aluno muito estranho. Alto, magro, cabelos compridos e olhos que pareciam caber todas as dores do mundo. Educadamente, perguntou-me se eu poderia ler um poema dele. Sem maior entusiasmo, aquiesci.   A primeira surpresa: o título do texto, “Antífona”. Quanto ao conteúdo, uma crítica aguda e instigante à Guerra do Vietname. Pensei comigo: esse moleque está tentando me testar. Lembrei-me do incidente ocorrido no Liceu Piauiense, na década de 1940, envolvendo um aluno irreverente e um velho professor de português. Para sacanear um professor de quem não gostava, um certo Orlando, aluno do curso científico, pegou um soneto dos menos conhecidos do Olavo Bilac e mostrou ao professor, afirmando ser de sua autoria. O velho professor não se fez de rogado, de lápis em punho, mostrou erros em tudo, até na metrificação. O aluno teria, então, afirmado: “O senhor não sabe de nada”. Por muito pouco, não foi expulso do colégio. O autor da brincadeira, mais tarde, tornar-se-ia o mais festejado dos ficcionistas piauiense: O.G. Rego de Carvalho.

Sem nenhum comentário, pedi ao rapaz que me trouxesse outro poema. Ele trouxe mais dois. Os temas eram distintos, mas a pegada era a mesma. Quando me trouxe o quarto, sem avisá-lo, publiquei-o no jornal O Estado. O garoto – o tempo se encarregaria de comprovar – era um poeta pronto, com um nome pomposo: Paulo Henrique Couto Machado.
            
Como à época eu não tinha filhos, adotei-o como “meu filho do coração”.  Juntos, desenvolvemos dezenas de projetos: publicamos livros, difundimos a literatura piauiense nos sertões do Piauí, fundamos jornais, criamos o Projeto Mão Dupla e fomos até ameaçados de morte por causa de um texto do Paulo, publicado por mim, sobre a grilagem de terras no Piauí. Tive a honra de editar todos os livros dele.
            
Paulo Machado se fez advogado, professor, historiador, principalmente, poeta. Tornou-se um dos intelectuais mais respeitados do Piauí. Deu-se então uma inversão de papéis: Paulo passou a ser “meu pai”. Hoje, quando preciso tomar uma decisão séria, sempre o consulto. Mas o que efetivamente importa: somos amigos desde meados da década de 1970. Conviver com ele é sempre um prazeroso aprendizado.
                                        
Paulo Machado  aniversariou nessa terça (23/07). Longa vida, meu irmão amado.

*****
Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
 

Comentários