Há coisa de 30 anos, ao passar por uma comunidade muito pobre, vi uns potes de cerâmica feitos à mão, rústicos e belos. Comprei dois, que ainda estão na minha casa. Mais tarde fiquei sabendo que o povoado, pertencente ao município de Oeiras, chamava-se São João da Varjota. O que eu não poderia imaginar é que, 30 anos depois, o município de São João me prestaria uma das mais belas homenagens que já recebi. Na segunda edição da Vila Literária, que se encerrou ontem (11/12/23), fui eu o autor homenageado.
Da pré-escola à nona série, os alunos do município leram poemas meus, fizeram releituras de fragmentos dos meus textos, apresentações musicais, teatrais, com alegria, beleza e arte. De tudo o que vi – e não foi pouco – o que mais me emocionou foi um grupo de senhoras, alunas do EJA, lendo poeminhas dos quais eu já nem me lembrava. Uma delas, depois da leitura do texto, exclamou: “Que nervoso, meu Deus!”. Uma festa completa. Contemplaram todos os meus livros, de O Menino que descobriu as palavras ao Aldeão lírico. Ao adaptarem Cacos de mim para a linguagem teatral, puseram um jegue em cena. A plateia foi ao delírio.
No final das apresentações, uma menininha, linda de viver, pegou no meu braço suavemente e perguntou: “Você é o Cineas de verdade?”. Sem pestanejar, respondi: sou o Cineas, sim. Mas não de verdade: às vezes eu minto. O sorriso da criança iluminou a noite. Não bastasse tudo isso, encerraram a festa com uma coreografia tendo como fundo musical “Relógio”, meu bolero preferido.
Decididamente, uma noitada para não ser esquecida. Assim seja!
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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