Meus amigos, quem já experimentou uma lembrança trazida por um perfume, por uma paisagem, por uma música ou pelo sabor de uma comida? Quando eu era menino, e morava em São Luís do Maranhão, minha família costumava passar finais de semana em um sítio no povoado Maracanã, que pertencia à família de Miguel e Zélia Fiquene.
Não havia luz elétrica. Tudo era rústico: o fogão a lenha, a bilheira, as lamparinas e os lampiões a querosene.
Quando iniciava o crepúsculo, era hora de acender as chamas da casa-grande. Na cozinha, um dos lampiões iluminava o fogão. Lembro que, em uma de suas bocas, havia uma panela muito grande, que cozinhava arroz. O cheiro da fumaça do arroz se misturava ao do querosene do lampião e se espalhava agradável pelo ambiente.
Anos depois, já adulto, eu andava a pé por uma das ruas do bairro Aldeota, em Fortaleza, quando senti aquele mesmo cheiro de minha infância, vindo de uma das casas. Havia um batente. Sentei-me e fiquei a sentir aquele pedaço gostoso do passado.
Imagens adormecidas despertaram, para dar vida a uma época de inocência. Por isso, eu escrevo, para preservar o que outrora existiu e que hoje se esvai pelos subterfúgios de uma mente concorrida. Reconheço que não somos um povo de boa memória. Nossas histórias passam, e as lembranças surgem apenas quando são motivadas por um dos nossos sentidos. Quando despertarmos, poderá ser tarde demais.
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Eneas Barros, escritor piauiense - nas redes sociais.
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