Meus amigos, nada pode ser mais prazeroso do que sentir uma sensação agradável e marcante, que nos pegue pelo braço e nos conduza ao passado. Foi isso o que vivi, no dia em que estive diante do sobrado em que o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) viveu os últimos 15 anos de sua vida.
O prédio fica em Lisboa, na Rua Coelho da Rocha, 16-18, Bairro de Campo de Ourique. Fui de táxi. Meu coração saltava, na medida em que o carro serpenteava pelas movimentadas ruas da capital portuguesa. Eu não sabia ao certo o que iria encontrar, mas tinha certeza da boa companhia que tive do poeta por muitos anos de minha adolescência e fase adulta, especialmente de Alberto Caeiro – heterônimo das sensações mais profundas de seu criador.
A Casa Fernando Pessoa guarda uma exposição em três pisos, sobre a vida e obra do poeta. Preserva o seu legado, classificado Tesouro Nacional. Os livros que pertenceram ao poeta são o maior acervo da Casa e permitem alcançar uma ideia do seu universo criativo, para revelar com quais títulos o seu lado leitor se deleitava.
Desci do táxi e fitei o monumental sobrado, espremido entre outros prédios elegantes, com varandas graciosas, repletas de jarros de flores a encantar a rua. Uma das janelas exibia um desenho de Fernando Pessoa, em tamanho original, para indicar que dali o poeta observava o movimento lá fora. Aproximei-me. A calçada era de pedras portuguesas. A porta, de madeira maciça, exibia desenhos salientes e detalhes em ferro e vidro, com puxadores nobres.
Fiquei a imaginar quantas vezes o poeta passara por aquela porta, para se recolher aos seus aposentos ou para ir ao Martinho da Arcada – um dos restaurantes de sua preferência, onde também estive em deleite, ao me sentar à mesma mesa em que ele lia o seu jornal e sorvia um cafezinho. Embora o sobrado mantenha o seu quarto intacto, com a cama, uma cômoda e algumas peças de roupas, o maior prazer que tive foi pisar no mesmo batente em que o poeta pisara durante 15 anos. A partir dali, pude adentrar a Casa Fernando Pessoa com um pouco mais de alívio.
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Eneas Barros, escritor piauiense - nas redes sociais.
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