O show abriu com um tema instrumental, que todo músico adora, aquele instante de performar com seu instrumento, essa tradição jazzística de soltar cada músico para improvisar dentro do campo harmônico. assim, Geraldo Brito diz inicialmente, por que a música e por que ser músico.
A partir daí anuncia cada intérprete de suas canções, e passamos a ouver, pelas vozes desfiladas no palco, a versatilidade cancionista do agora septuagenário músico piauiense.
Compositor de sensibilidade curiosa, Geraldo divide melodicamente as palavras com precisão e produz o estranhamento próprio dos comportamentos estéticos de invenção. mantém esse modo de criação ao trabalhar com parceiros ou sozinho.
O formato do espetáculo, com altercações de intérpretes de gerações distintas, funcionou, gerou um clima de celebração e ressaltou, talvez involuntariamente, uma pequena diacronia musical contemporânea piauiense através das canções do Geraldo, com alguns momentos memorialísticos, que nos fez lembrar o antológico bar “Nós e Elis”, espaço de pulsão musical para quem viveu a Teresina dos anos de 1980.
Geraldo Brito sempre foi generoso em oportunizar músicos, cantores e cantoras, viabilizando carreiras e expressões, numa espécie de livre pedagogia artística.
Sempre empático e atencioso em nosso circuito de afetos, nessa noite em que celebrou seu aniversário de 70 anos não foi diferente.
E como disse o antropólogo francês Marcel Mauss, não existe dádiva desinteressada, tivemos uma noite de trocas; portanto, Geraldo, agradecemos o presente.
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Feliciano Bezerra é músico, professor doutor da Uespi - nas redes sociais.
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