Há 53 anos, por absoluta necessidade, entrei numa sala de aula como professor. O magistério não figurava no meu projeto de vida. Para minha surpresa, o que deveria ter sido uma passagem rápida virou vício, paixão, vida... Não me imagino fazendo nada diferente do que fiz ao longo dessa viagem extraordinária. É certo que fiz e faço muitas outras coisas, mas tudo em decorrência ou como consequência de minha atuação como professor.

Dia desses, em Coelho Neto (MA), encontrei um ex-aluno que me presenteou com uma caixa de instrumentos de percussão construídos por ele. Além de belos, são úteis nas aulas de fonética. Até aí nada de extraordinário: recebo muitos mimos de alunos e ex-alunos. O que me chamou a atenção foi o fato de o cidadão lembrar-se de uma aula de literatura na qual escrevi na lousa: “É sempre bom lembrar/que um copo vazio/ está cheio de ar”, verso de uma canção de Gilberto Gil. Nada de especial não fosse o fato de a aula ter acontecido há uns 40 anos... Eu e o ex-aluno nos abraçamos comovidos. Coisas que marcam.

O que eu poderia dizer hoje? Direi apenas: o magistério me deu o suficiente para sobreviver dignamente; deu-me muito mais: visibilidade, credibilidade, a estima de alguns e o respeito de muitos. Deu-me ainda algo muito importante: plateia. Professor é o único profissional que tem plateia cativa; tem, portanto, a obrigação de respeitá-la. É o que tenho procurado fazer. Nada além.

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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.