Durante muito tempo, a data 20 de setembro brindava-me com uma pequena aporrinhação: familiares e amigos insistiam em comemorar a data como se algo de extraordinário estivesse acontecendo. Para mim, era um dia como outro qualquer. Finalmente, na manhã do dia 20 de setembro de 2008, acordei e me dei conta de que estava completando 60 anos de vida. Só então percebi que já estava no lucro: a média de vida em minha aldeia não ia além dos 50. Decidi que, a partir de então, comemoraria cada dia de vida como se fosse o primeiro ou último. E assim tem sido.
Hoje, acordei com 75 anos. Convenhamos que, para um sertanejo, não é pouco. Ao longo desses anos, fiz o que me cabia fazer: ministrei milhares de aulas, proferi centenas de conferências, editei dezenas de livros, participei de alguns embates memoráveis e sobrevivi para contar. As cicatrizes me povoam o corpo inteiro, mas as minhas pernas ainda me conduzem, a visão me permite distinguir uma mulher de um vaso de samambaias e não perdi a capacidade de indignar-me com as injustiças do mundo... Estou vivo!
Sem queixas ou mágoas, eu poderia repetir Manuel Bandeira: “O meu dia foi bom/ pode a noite descer/ (A noite com seus sortilégios) /Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, /A mesa posta, /Com cada coisa em seu lugar”.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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