Na terceira edição do Salipi, firmamos uma parceria com o SETUT (Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina) que mudaria, de uma vez por todas, o perfil do Salão. O SETUT colocou à nossa disposição uns dez ônibus para transportar os alunos da rede municipal de ensino da periferia da cidade para o Centro de Convenções. Diariamente, centenas de crianças passaram a ter acesso à festa do livro. Chegavam aos magotes, ruidosos, curiosos, felizes... Para atendê-los, montamos um circo com música, dança, artes plásticas, beleza.
O Salão caminhava para sua consolidação: se, com o Língua Viva, atendíamos os professores; com a programação infantil, ofertávamos à molecada atividades lúdicas educativas. Decididamente, o Salipi tornara-se uma festa completa.
Numa tarde, cheguei ao Centro de Convenções quando os ônibus despejavam no espaço um dilúvio de crianças. Entrei meio empurrado pelos meninos. Ao passar em frente a um dos estandes, ouvi da proprietária o comentário: “Só podia ter saída da cabeça de jerico do Cineas a ideia de entulhar este espaço com meninos sujos, fedorentos que não compram um lápis e atrapalham o fluxo dos transeuntes”. A cidadã fez o desabafo em voz alta para que eu pudesse ouvir. Para surpresa dos que a ouviram, comecei a sorrir. O que ela, que nunca leu um poema, não poderia imaginar é que eu estava me lembrando dos versos de Manoel de Barros: “Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro./ Para mim poderoso é aquele que descobre as/ insignificâncias (do mundo e as nossa)./ Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil/ Fiquei emocionado./ Sou fraco para elogios”.
Hoje, não por acaso, o Salipi é conhecido, nacionalmente, como o salão das crianças. Quanto ao “elogio”, eu fiz por merecê-lo.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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