Rapaz, eu não estou quase acreditando que o velho "Migalhas", tenha partido assim tão apressado sem dizer nem tchau para os amigos. Saiu à francesa, como às vezes fazia quando estava de saco cheio. O conheci ali por volta de 1986. Ele se aproximou e rapidamente ficamos amigo. A música, a poesia, a prosa e futebol nos aproximou. Lembro que assistimos o jogo Argentina 1 x Brasil 0, lá em casa e indignados com esse resultado, fomos até a casa do Carlos Said e lhe entregamos uma folha de papel escrita com várias perguntas sobre o desempenho da seleção brasileira. Tudo isso foi publicado no Jornal da Manhã onde ele trabalhava. Lembro que o emprestei um livro de poesias do E.E.Cummings traduzido pelo Augusto de Campos e ele gostou muito. Estava ávido por leitura, não importava se fosse prosa ou poesia. A música também nos aproximou e ele ficava impressionado quando tocava para ele grandes clássicos da mpb, de forma instrumental.
No início da década de 90, ele convidou a mim e ao Feliciano Bezerra para escrevermos uma coluna intitulada GRAFITO, no Jornal da Manhã e assim aconteceu por algum tempo. Frequentava muito o Zeus, Espaço Cultural que era meu e de Vera Leite, durante os anos de 94 e 95. Ele gostava muito do professor Jomar Muniz de Brito que foi seu professor na Paraíba onde cursou Comunicação. Em 1994, acho que o Rubervan du Nascimento e o Hélio Ferreira(não sei se esqueci mais alguém), organizaram lá no Zeus, uma semana de poesia e trouxeram o Jomar, para a felicidade do Magalhães.
Ali pelo ano de 2010 ele cismou de escrever letra de música e me enviou uma mensagem querendo saber como fazer e também como diferenciar letra e poesia. Lhe falei que isso era muito complexo e ao mesmo tempo não. Dei-lhe um exemplo explicando que poesia era como jogar num campo de futebol dito como profissional com todo o espaço possível em sua frente. E letra de música, a gente trabalhava como se estivéssemos jogando num campo de futebol de salão, onde tudo era metrificado, tudo muito pequeno e precisando de um poder de síntese imenso, principalmente quando fossemos colocar letra em uma melodia pronta. Ficávamos à mercê da melodia já pronta.
Visto isso, ele começou a fazer letras e mais letras e rapidamente encontrou no compositor e músico, Osnir Veríssimo, o seu parceiro ideal e constante. Durante esse tempo o seu leque de parceiros foi crescendo: Francy Monte, Roraima, Rubeni Miranda e outros. Entre o ano de 2021 e 2022 ele me enviou duas letras, ALFORJES e RIO DAS MÁGOAS. Musiquei-as de chofre e mostrei a ele pelo zap. Ele adorou, principalmente ALFORJES, e após um gargalhada me falou:"o Fifi vai morrer de inveja dessa nossa parceria".
No início desse ano nos encontramos para ele adqurir o meu livro. Sorrimos muito de suas loucas histórias. Essa foi a última vez em que nos encontramos. E logo veio a tempestade que o deixou internado por 45 dias. Estranhamente, me deu uma vontade de gravar ALFORJES e me apressei para gravá-la. Logo a seguir me deu uma vontade de mostrar a ele e enviei o arquivo para sua esposa, Nadir, para colocar em um som pra ele ouvir. Ela me disse que ele escutou duas vezes e gostou.
Agora me veio essa notícia ruim que ele partiu. Fiquei arrasado e repito aqui os versos finais de ALFORJES escrito por ele: QUANDO O VÃO DA POESIA CHEGAR AO FIM/BEBA O VINHO DA SOLIDÃO/ERGA A TAÇA EM MEMÓRIA DE MIM!.
Parece algo assim de partida. Muito estranho, mesmo. As duas parcerias nossas eu já tinha incluído em meu disco de músicas inéditas e onde eu cantarei todas. Agora, então!
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Geraldo Brito é músico, cantor e compositor piauiense - nas redes sociais.
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