A efeméride surgiu no Brasil quando mulheres engajadas forçaram Getúlio Vargas a assinar um decreto em 1932, instituindo o 2º domingo de maio como dia das mães.
O mito materno sempre nos indagou, e várias áreas do pensamento tentam nos fazer compreender: filosofia, psicologia, antropologia, medicina… mãe é instinto ou construção?
O discurso religioso também tem forte presença, a santificação da mãe é fundante. daí a imagem celestial, da pureza, do amor sagrado.
A maternidade é resultado de ato sexual; porém, depois de nos transformarmos em seres de cultura, portanto simbólicos, nos afastamos da pura e simples necessidade orgânica de reprodução da espécie e complexificamos a cópula, tornando-a ato erótico, de encontro amoroso (excetuando-se, por óbvio, o estupro).
Curiosamente, nos ensina Georges Bataille, o erótico também é sagrado, desmontando moralidades frágeis.
A peça publicitária aqui reproduzida me agradou pela bem articulada mobilidade semântica. A campanha é assinada por uma clínica de ginecologia e obstetrícia, mas a ideia desloca-se do campo científico, ressignificando a biologia do nascimento.
Chama a atenção o destaque aos signos eróticos atribuídos à mãe, inclusive com a presença do parceiro do desejo, recolocando o lugar do gozo, do prazer, que precedem a maternidade (e a acompanham…). a imagem é linda, o volume da barriga e a pélvis em deslize sob o jeans semiaberto resultaram sutil e elegante.
Se ser mãe é vontade feminina assente, o desejo não pode estar ausente…
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Feliciano Bezerra é professor doutor da UESPI - nas redes sociais.
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