Facebook
  RSS
  Whatsapp
Sabado, 28 de dezembro de 2024
Colunas /

Cultura

Cultura

cantidiosfilho@gmail.com

10/05/2023 - 16h37

Compartilhe

Cultura

cantidiosfilho@gmail.com

10/05/2023 - 16h37

A JANELA

 

 

Já se afirmou que as janelas foram inventadas para arejar as almas. Falta-me competência para discutir o assunto. O certo é que, por mais elegante e aconchegante que seja um espaço, se lhe falta uma janela, fica com jeitão de cela.
 
Antes da invenção da TV, as janelas eram espaços muito disputados nas casas. Sem precisar gastar nada, além de tempo, podia-se assistir ao desenrolar da vida em tempo real. Ao longo da história, as janelas têm sido cantadas em prosa e verso. Adélia Prado, por exemplo, termina um belo poema assim: “Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão, / claraboia na minha alma, / olho no meu coração” ...
Ao que interessa: numa tardes dessas, sem aviso prévio, caiu uma chuvinha mansa, delicada, amorosa, como diria o poeta Dobal. Como moro numa casa velha, com muitas janelas e cercada de planta por todos os lados, quando chove, tenho a sensação de que está chovendo dentro da minha casa... É o meu único luxo, acreditem.

A chuvinha persistia com sua música inconfundível. Não resisti à tentação de gravar um pequeno vídeo com o celular, coisa de 30 segundos... O trem ficou conforme, diria meu pai. Por acreditar que o saber e a beleza só se realizam plenamente quando compartilhados, mandei o vídeo para alguns amigos. Cinco minutos depois, dileta amiga, professora e poeta, me mandou a seguinte mensagem: “Obrigada: você é minha janela”. Antes que eu tivesse tempo de digerir o elogio, a moça me mandou uma foto da sala onde ministrava uma aula de redação. Dir-se-ia uma sala de hospital: toda azulejada, com ar-condicionado, iluminação artificial e nenhuma janela. Tive (por que não confessar?) pena da moça...
Professor há muitas luas, já ministrei aulas até sob latadas de palha, nunca numa sala de cirurgia... Quanto ao elogio, senti-me em boa companhia: Cristo, apenas Ele, podia afirmar: “Eu sou a porta”. Ser a janela de alguém, convenhamos, não é pouco. Assim seja.

*****
Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.

Comentários