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Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
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José Osmar

José Osmar

passargadapoesia@gmail.com

23/03/2023 - 08h09

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José Osmar

passargadapoesia@gmail.com

23/03/2023 - 08h09

ELEIÇÕES E CORRUPÇÃO ELEITORAL Cap. II – “Ninguém ganha eleição sozinho”

 

 

No Capítulo I desta que pretende ser uma série de artigos sobre a corrupção nas eleições brasileiras iniciei relatando uma conversa com amigos no bar do Zé de Pinho, no Cais do Rio Parnaíba, na qual eles me disseram várias “verdades” sobre as eleições no Brasil, e especialmente sobre as eleições em União.

A primeira “verdade” dita por eles é que “ninguém ganha uma eleição sem dinheiro”, objeto do Cap. I, e a segunda, que “ninguém ganha uma eleição sozinho”, sobre a qual pretendo falar neste Cap. II.

Então, tá combinado: ninguém ganha uma eleição sozinho!

O problema é que eu não acredito nisso – pelo menos não no sentido que as pessoas dão a essa afirmação.

Tudo bem, eu concordo que sozinho realmente não é possível ganhar uma eleição, porque uma eleição, por si só, pressupõe um conjunto de pessoas trabalhando com o objetivo comum de eleger alguém para exercer um cargo público. Mas o “não está sozinho” aí deve ser entendido como a necessidade de que haja muita gente na campanha, para dá volume, para motivar, para despertar nos eleitores o sentimento de que aquela candidatura será vitoriosa, e não necessariamente que haja gente de muitos partidos.

Obviamente a lei permite que os partidos se juntem para disputar uma eleição. E, de fato, não há nada de errado nisso, uma vez que o regime democrático necessita de consensos. Porém, eu entendo que os partidos que pretendam se coligar precisam ter entre si uma identidade ideológica e programática mínima, para que não aconteça de a coligação ficar tão heterogênea que acabe por desfigurar completamente o programa do próprio candidato, prejudicando a capacidade dos eleitores de identificar as diferenças entre as diversas correntes partidárias do País.

Mas infelizmente é comum vermos pessoas que defendem políticas diametralmente opostas se juntarem numa coligação de interesses meramente eleitoreiros. Essas pessoas muitas vezes já foram adversários em campanhas anteriores, quando se acusaram dos mais graves crimes, se xingaram com adjetivos impublicáveis e agora se juntam apenas para ganhar a eleição, sem qualquer compromisso com uma administração séria e eficaz, e cientes de que no próximo pleito poderão estar em palanques diferentes, novamente se agredindo, achincalhando a Política, levando os eleitores a acharem que realmente todos os políticos são iguais na iniquidade.

E quando acontece de tais arranjos partidários ganharem a eleição, os cargos públicos são fatiados entre as diversas correntes que compuseram a coligação, de acordo com a votação de cada uma, não importando a forma como tais votos foram obtidos. Nenhuma preocupação com a competência ou a eficiência dos indicados. Nada disso interessa, exceto a garantia de ganhar a próxima eleição.

O resultado de administrações arranjadas assim é o que se ver no Brasil de hoje.

Então, é minha opinião que os partidos políticos precisam aprender a ganhar as eleições sozinhos, para que administrem de acordo com o programa e a ideologia de cada um, e assim o povo possa avaliar corretamente quem é mais adequado para cuidar dos interesses públicos.

Eu sei que o sistema é democrático e, portanto, complexo, e que o Executivo precisa do Legislativo para administrar. Então, se o Partido do candidato eleito não obtiver maioria no parlamento (e isso frequentemente acontecesse), há sempre o risco de ele ser forçado a eventualmente fazer concessões a parlamentares corruptos. Porém, a força política do cargo e a força moral do eleito (se ele tiver moral) constituirão um poder forte o suficiente para impedir qualquer manobra desleal tendente a inviabilizar a Administração.

Certamente a legislação que permite a proliferação desenfreada de partidos políticos no Brasil contribui para a confusão eleitoral em que vivemos, na qual a maioria dos partidos servem apenas como moeda de troca nas mãos de pessoas que defendem unicamente os seus interesses pessoais.

É por isso que eu discordo da maioria dos meus amigos, porque entendo que é, sim, possível ganhar uma eleição sem a necessidade de reunir uma dezena de partidos em torno de uma candidatura. Desde que o candidato tenha uma razoável densidade eleitoral, tenha firmeza ideológica, tenha um certo histórico verificável de seriedade e competência no trato da coisa pública e goze de independência política e financeira para não depender da eleição como um caso de vida ou morte.

Alguém pode achar que eu estou apenas sonhando, mas, creiam, eleições assim já aconteceram várias vezes brasil afora, e é exatamente nisto que devemos ter fé.

Um abraço fraterno!

 

 

 

 

 

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