Outro dia eu conversava com uns amigos no bar do Zé de Pinho, ali no cais do Rio Parnaíba, em União, e eles me disseram pela enésima vez a frase abaixo:
“Sem dinheiro não se ganha eleição, porque o eleitor tá viciado e só vota se receber alguma coisa.”
A corrupção nas eleições brasileiras se tornou popular no final dos anos noventa. Trata-se de um fenômeno antigo entre nós, mas, antes, os agentes da compra e venda de votos (candidatos e eleitores) eram mais discretos, não falavam disso abertamente. Não combatido pela autoridade competente, hoje o crime eleitoral da compra de voto passou a ser discutido tranquilamente nas rodas de amigos, sendo agora parte indissociável das nossas eleições, de modo que se naturalizou a ideia de que o êxito eleitoral de um candidato não decorre da popularidade de suas ideias, mas do volume de recursos gastos por ele(ela) nas eleições.
Pergunte a algum candidato que não se elegeu no pleito passado e ele provavelmente vai lhe dizer que se tivesse dinheiro teria ganhado a eleição. E o dinheiro a que ele se refere não é aquele necessário para fazer a campanha, mas para comprar os votos para se eleger. E foi assim que chegamos ao ponto de “termos certeza” de que sem dinheiro ninguém se elege no Brasil. E em União – meus amigos disseram – a situação é ainda pior.
Pois é, então fica combinado: “Sem dinheiro não se ganha eleição”!
O problema é que eu não acredito que isto seja verdade. Ou melhor, eu acredito que isto ainda não é verdade!
Embora eu mesmo tenha perdido a eleição para prefeito em 2020, continuo me recusando a acreditar que para ser eleito pelo povo de União eu seja obrigado a comprar voto. Se realmente for assim, com certeza eu nunca exercerei um mandato eletivo!
Com isso em mente, fui verificar se havia algum estudo sobre esse assunto e eis que encontrei algumas pesquisas que comprovam que, de fato, cerca de 40% dos eleitores brasileiros já pediram alguma vantagem financeira em troca do voto.
Claro que termos 40% de eleitores vendendo ou tentando vender seus votos, e candidatos comprando ou tentando comprar esses votos, é uma calamidade por si só, uma vergonha inominável, um crime eleitoral em massa, um coice na cara da democracia e do Ministério Público Eleitoral. Porém, embora o percentual de eleitores corrompidos seja lamentavelmente alto, nem tudo está perdido, pois ainda restam 60% de eleitores que nunca receberam ou pediram qualquer favor ou vantagem financeira para votar.
Você mesmo que está lendo este post provavelmente é um desses eleitores que votam por achar que um dado candidato tem as melhores propostas para a comunidade, ou talvez você já tenha votado por ser amigo do próprio candidato, ou porque um amigo do candidato lhe pediu. O certo é que, de fato, numa eleição ou nós votamos no melhor candidato, ou votamos num candidato amigo, ou votamos num amigo de um amigo. De regra, é assim que definimos o nosso voto e, creia, não há nada de errado nisso. Nunca, porém, devemos votar porque recebemos um favor ou pagamento para isso. A vantagem que o eleitor recebe para votar não resolve a vida dele, mas desgraça a vida da comunidade.
Certamente, você nunca pediu nem recebeu nada pelo seu voto porque você sabe que vender e comprar voto é crime, e também porque sabe que isto prejudica a democracia, pois, quem vende uma coisa e recebe o pagamento não tem mais nada a exigir do comprador; e o comprador, tendo pago o que comprou, não tem mais compromisso com quem vendeu.
Talvez você ache que a maioria dos políticos são uns picaretas, porque é isso o que você ouve todos os dias, não é mesmo? Provavelmente você já tenha até dito que nunca mais votaria, mas na hora da eleição não tem jeito, você sempre vai lá, pega a fila da urna e vota, cumpre o seu dever de cidadania.
O fato é que mesmo sem nunca ter pedido ou ganhado nada pelo seu voto, você sempre votou. Meus parabéns! É exatamente com você que eu que quero falar de Política, da verdadeira Política, aquela que se faz pelo bem de todos. Note que neste parágrafo eu escrevi a palavra “Política” com “P” maiúsculo, porque a “política” que os compradores de voto fazem não é Política, é politicalha, e politicalha se escreve com “p” minúsculo. Aliás, exatamente porque a maioria dos que estão pleiteando um cargo eletivo fazem da Política uma politicalha que as pessoas honestas se afastam das atividades políticas.
É possível que neste momento você esteja achando que eu seria um bom político, no entanto, acredita que com esse pensamento eu jamais serei eleito, porque, mesmo nunca tendo vendido o seu voto, você talvez também ache que sem dinheiro realmente ninguém ganha uma eleição. Se esse for o caso, desculpe, mas nesse ponto você está errado(a).
Não se esqueça de que eu e você estamos entre aqueles 60% que não vende o voto. Portanto, ainda somos a maioria! E para ganhar uma eleição para prefeito, por exemplo, um candidato só precisa ter 50% dos votos mais 1. Nesse caso, ainda sobram quase 10% de cidadãos eleitores que não negociam sua consciência.
E é exatamente nisto que devemos ter fé.
Um abraço fraterno!
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