Ele foi meu professor na UFPI, nos idos dos 80s do século passado… era ótimo. Conheci-o na disciplina de linguística, havia chegado de seus estudos fora (não lembro se mestrado ou doutorado), todo estiloso, fumando cachimbo e com livro editado. Os estudantes de Letras, à época, tínhamos a tendência (e prática) de nos dividirmos entre a turma da linguística e a da literatura, eu era desta segunda. José Reis me ajudou a entender melhor toda a percepção da linguagem como estrutura, juntamente com outro professor, Ubiraci Carvalho, que me fizeram conhecer Saussure e toda a revolução da linguística estrutural.
Lembro de certa vez, estudante curioso e todo metido a literato, perguntei-lhe sobre a importância dos estudos linguísticos. Chamou-me num canto e me deu uma verdadeira aula sobre ciência dura, sobre epistemologia da linguagem e coisas complexas para mim naquele momento. Do que eu entendi, passei a admira-lo e meus interesses na área aumentaram pra conseguir meus “BMs” nas disciplinas…
José Reis era um entusiasta contumaz, tinha uma natureza pedagógica, de ordem didática em tudo que se envolvia. E não era careta, punha sensibilidade e graça nas coisas, com aquele sorriso imediatamente cúmplice. Foi assim em seus desdobramentos de atividades, como político, como agente administrador das pastas de educação e de cultura, da prefeitura de Teresina. Nesta última marcou uma geração inteira, com suas ideias, ousadias e realizações.
Lembro de outro episódio biográfico: quando fui habitar em São Paulo, em 1994, ele era secretário de educação e eu professor da rede municipal de ensino. Decidido, fui encaminhar minha exoneração pra viajar, ele discordou, disse ser uma precipitação, que eu era concursado e tal. Diante de minha insistência, resolveu conceder-me licença sem vencimentos, pois, segundo ele, minha aventura em São Paulo poderia não dar certo e eu reassumiria minha função depois de um ano. Bem, passado um ano, ouvi-o dizer que eu não tinha jeito e assinou minha exoneração… 12 anos depois.
De volta a Teresina, obviamente nos reencontramos e vi que seu olhar continuava com brilho utópico, agora à frente da fundação cultural Monsenhor Chaves, onde angariou afetos em toda rede de operadores da cultura piauiense.
Tomei um drink, sozinho, em sua homenagem, lembrando dos tantos que já tomamos juntos. E esse verbo “tomar” ganha agora dimensão semântica curiosa, pelo silêncio de José Reis Pereira…
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Feliciano Bezerra é professor doutor da Uespi - nas redes sociais.
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