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Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
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18/12/2012 - 13h18

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18/12/2012 - 13h18

Reflexão sobre escola que teve pior desempenho no Enem 2011

Sociólogo e professor universitário faz reflexão sobre o assunto

 Opinião

 

O Colégio Aquiles Lisboa, em São Domingos do Azeitão (MA), obteve a pior nota no Enem 2011. O sociólogo, escritor, produtor cultural e professor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Reinaldo Guimarães - foto ao lado - enviou ao Liberdade News uma reflexão sobre esse baixo desempenho.

Confira o artigo de opinião abaixo:

 

 

Opinião

SÃO DOMINGOS DO AZEITÃO - ENEM 2011: DIGNE-SE AO INVÉS DE INDIGNAR-SE

Reinaldo Guimarães*

 

São Domingos do Azeitão, 18 anos de emancipação política e outros tantos de fundação. Nós, sãodominguenses, somos acostumados a críticas, tais como: o riso fácil quando pronunciamos o nome completo da cidade, o fato de termos sido por décadas município de uma cidade com população e desenvolvimento menor que a nossa (Benedito Leite), a brincadeira dos visitantes em dizer que lá possui apenas uma placa com os dizeres SEJA BEM VINDO e no outro lado BOA VIAGEM. E nós também rimos disso, levamos na esportiva, interagimos amistosamente. É nossa história, como qualquer cidade provinciana do Brasil, nem melhor nem pior.

Todavia, fomos surpreendidos com o resultado do ENEM-2011. Nossa Escola U.E.Aquiles Lisboa (nome de um ex-governador maranhense), foi destaque nacional com a menor nota entre as escolas do Brasil. Foi um baque, ninguém ficou indiferente.

Começaram-se um “caça as bruxas”. De quem é a culpa? Quem deve ser punido? Qual a punição? É uma vergonha, etc., etc., etc. Os filhos de São Domingos de norte a sul do país mostraram-se ardorosos amantes, defensores e ávidos por justiça.

Façamos então uma reflexão. Lembro-me com riqueza de detalhes, quando ainda estudante daquela Unidade Escolar, nossa Escola fora reformada. Vocês não imaginam quão encantados ficamos. Tínhamos agora uma sirene. Quando tocava era uma algazarra só, seguido de risos e espanto. O piso fora trocado por cerâmica, branquinho, lizinho. Um objeto estranho, branco com duas torneiras que liberava água gelada: era o primeiro bebedouro que víamos na vida. Foi nessa época também que tivemos livro, era preciso comprar, pois não era dado e poucos compraram.

Nosso Aquiles Lisboa era muito organizado. Era um verdadeiro ritual, ao entrar, formava-se fila por série e do menor até o maior. Cantava-se os quatro hinos (Brasil, Maranhão, Bandeira e Independência) e dia de sexta-feira tudo isso e mais orações. Dona Iracema, nossa diretora, era a responsável por tal maestria.

É sabido que no Maranhão educação nunca, e nunca foi prioridade. Quem é maranhense e quem não é sabe disso. Antes de entrarem no ensino médio, os estudantes fazem o fundamental, via de regra, nas escolas do município. Podemos agora ter uma ideia da qualidade desse ensino e dos resultados futuros. Em um país onde o Governo Federal é responsável pela educação técnica e superior (vale ressaltar que tem feito vastos investimentos), os governos estaduais são responsáveis pela educação média, a educação básica fica a mercê dos municípios. As prefeituras de muitas pequenas cidades são vistas e geridas como fazenda ou comércio dos gestores. Eles tiram e colocam professores a hora que bem querem, pagam os funcionários quando desejam e fornecem merenda escolar quando estão de bom humor. E não me venham com retórica de que as coisas estão mudando, que a lei é para todos, por que ainda hoje nas pequenas e miseráveis cidades não é.

Os sãodominguenses que se orgulham de relembrar sua infância, suas épocas de escola, ao invés de ficarem pura e simplesmente INDIGNADOS, devem sim DIGNAR-SE a uma atitude. Não apenas aparecerem nos festejos, carnaval ou finados em seus belos e caros carros, com sua saudável e bem vestida prole, mas sim fazerem algo por quem lá está, por quem ficou, por quem não pôde sair.

Eu me pergunto: quantos projetos nos já ajudamos? Quantas ações nós criamos, auxiliamos? Quais de nós voltamos ao Aquiles Lisboa e contamos nossa história, demos força, encorajamos, incentivamos? Mas, muitos podem dizer: o dever é do Governo. Tudo bem, pois continuem agindo dessa forma, patrocinando somente festinhas particulares e seus amigos políticos, e nos poupe de uma preocupação INSTANTÂNEA e DEMAGÓGICA.

Não há necessidade de termos vergonha de dizer que somos de São Domingos do Azeitão, muito menos que estudamos no Aquiles Lisboa. Somos o que sempre fomos resultado do meio, mas loucos pelo melhor, não para si, mas para todos.

Ninguém é culpado, mas somos todos responsáveis.

 

*Reinaldo Guimarães
Sociólogo
Escritor
Produtor cultural
Professor da UEMA
Presidente da ONG-UFA (União dos Filhos do Azeitão)

 


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