Quem acompanha a música, sabe das dificuldades que sempre foi encontrar mulheres instrumentistas, já que elas ainda estão em um número bem pequeno, isso comparado ao universo masculino que ainda domina o mercado musical. Na capital do Piauí, um projeto que é desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Teresina (PMT), por meio da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves (FMC), na periferia da cidade, vem mudando essa realidade, pois está colocando cada vez mais um número maior de jovens mulheres no mercado de trabalho.
O Projeto Banda Escola atua diretamente em oito comunidades, beneficiando dezenas de crianças e jovens, muitos destes de famílias carentes e que não dispõem de recursos para financiar cursos na área da música, que custam caro e geralmente são realizados em locais distantes. Além dos alunos do sexo masculino, o projeto conta com 30 jovens mulheres, sendo que algumas delas já atuam profissionalmente no mercado, tendo até exemplo de uma ex-aluna que hoje é professora e se dedica a repassar seus ensinamentos para os jovens.
Brenda Souza foi aluna do professor Micael Fidelis na Banda Escola Heitor Villa-Lobos, que atua no bairro Piçarreira zona leste de Teresina. Ela começou meio que tímida, mas com o passar dos tempos, foi se destacando e atualmente é professora da banda na qual foi aluna. Brenda destaca que por atuar diretamente na periferia, o projeto funciona como uma espécie de proteção aos jovens em situação de risco e que muitos são os casos onde os jovens saíram da criminalidade e hoje vivem da música.
“Hoje, assim como antigamente, a cultura, a banda de música, tem um papel fundamental na formação profissional e da integridade de caráter das crianças, já que a maioria delas vivem em situação de risco de vulnerabilidade social. As jovens atendidas pelo projeto vivenciam algo novo, uma experiência que muda vidas, e isso é muito gratificante para quem trabalha diretamente nessa linha de frente”, conta Brenda Souza, evidenciando a importância do Projeto na vida de diversas crianças e adolescentes das mais diversas comunidades da cidade.
PRECONCEITO E DESAFIOS
Irislene Rocha – Aluna da Banda Escola Maria Yeda Cada, na Vila Irmã Dulce. Foto: Ascom FMC
Outro exemplo de superação vem da Banda Escola Maria Yeda Cada, na Vila Irmã Dulce, zona Sul de Teresina, onde estuda a jovem Irislene Rocha, de 22 anos, aluna do Professor Vitalino Luz, e que desde os nove anos de idade, vem lutando pelo sonho de tocar um instrumento musical. Irislene toca saxofone, ela conta que o primeiro desafio foi enfrentado dentro de sua própria casa, onde seu pai era totalmente contra a ideia de ver uma mulher tocando um instrumento musical.
Sem se abater com as críticas, Irislene correu atrás de seus sonhos e conquistou uma formação técnica na sua área musical. Casada com um músico, ela aguarda a chegada do primeiro filho, e garante que continuará como aluna no projeto, mas que em breve pretende buscar novos desafios, assim como fez a jovem Brenda Sousa.
“Meu pai veio de outra geração, onde naquele tempo o marxismo era dominante, mas todo esse preconceito foi embora quando ele me viu tocando pela primeira vez, fato que fez ele passar a sentir orgulho de me ter como filha, já que eu também comecei a ganhar dinheiro com a música”, conta Irislene Rocha, que após receber a aprovação do pai, teve que enfrentar desafios para tocar em eventos, já que ela não possuía o seu próprio saxofone.
Ana Maria, com 18 anos, já sabe a importância do seu papel dentro da Banda Escola e para toda a sociedade, aluna das turmas de saxofone tenor, ela já observou que existem um aumento de mulheres participantes do projeto. Ela conta que a sociedade machista e patriarcal a qual estamos inseridos, ser uma mulher instrumentista é ocupar mais um espaço e levar a representatividade feminina em todos os espaços.
Alunas da Banda Escola Aurélio Melo, no Vale do Gavião. Foto: Ascom FMC
“Como mulher, eu vejo que no projeto , vamos conseguir dominar esses espaços, na banda em que toco por exemplo, o número de mulheres é um tanto superior a quantidade de homens, inclusive tem uma maestrina mulher. Me sinto feliz por poder fazer parte de tudo isso, e ver cada vez mais, nós mulheres de todos os lugares estaremos no mercado lutando de igual para igual com o homens”, frisa Ana Maria.
Atualmente o Projeto Banda Escola funciona nos bairros Dagmar Mazza, Parque Itararé, Piçarreira, Santa Maria da Codipi, Mocambinho, Vale do Gavião, Porto Alegre e na Vila Irmã Dulce. A ideia do prefeito Dr. Pessoa e do presidente da FMC, Ênio Portela, é fortalecer ainda mais essa ferramenta, inclusive a levando para comunidades rurais, para contribuir ainda mais com o enriquecimento cultural da juventude teresinense.
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