Quem deseja perder peso geralmente busca um balanço energético negativo, ou seja, consumir menos energia do que gasta, e acaba focando bastante no conteúdo de calorias dos alimentos. Mas não são apenas as calorias que importam, a qualidade do que comemos também.
Um estudo publicado na Cell Metabolism e coordenado pelo pesquisador Kevin Hall investigou se as pessoas consumiam mais calorias quando expostas a uma alimentação baseada em ultraprocessados em comparação com uma alimentação fresca e caseira, composta por alimentos in natura e minimamente processados.
Alimentos ultraprocessados versus in natura e minimamente processados
Com a promessa da perda de peso surgem diversas dietas restritivas: com baixo teor de carboidratos, cetogênica, low carb, entre diversas outras que restringem algum nutriente ou grupo alimentar.
Enquanto se debate os méritos e deméritos dessas dietas, menos atenção é dada a uma recomendação que deveria ser comum a qualquer estratégia que tenha como objetivo a saúde, seguindo as recomendações do Novo Guia Alimentar para População Brasileira: consumir mais alimentos in natura e minimamente processados, e menos alimentos ultraprocessados.
Os alimentos ultraprocessados geralmente são mais baratos, têm uma vida útil longa, são relativamente seguros do ponto de vista microbiológico e são muito convenientes, pois muitos deles estão prontos para consumo ou apenas necessitam de aquecimento.
Por outro lado, esse tipo de alimento apresenta muitos aditivos alimentares (conservantes, emulsificantes, aromatizantes etc.) e uma combinação de gorduras, carboidratos e sódio que os tornam hiperpalatáveis.
Para investigar a hipótese de que a qualidade do alimento é importante e não somente as calorias, eles selecionaram 10 homens e 10 mulheres adultos, que ficaram internados no National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais) por 28 dias.
Os participantes foram selecionados aleatoriamente para consumir uma alimentação à vontade baseada em ultraprocessados ou em alimentos in natura e minimamente processados por duas semanas, e em seguida o tipo de alimentação foi alternado.
A definição dos tipos de alimentos aconteceu de acordo com a classificação NOVA (a mesma utilizada para a elaboração do Guia Alimentar), que considera a natureza, a extensão e a finalidade do processamento ao categorizar alimentos e bebidas em quatro grupos: in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários (sal, açúcares, óleos e gorduras), alimentos processados ultraprocessados.
Durante cada fase do estudo, os sujeitos foram apresentados a três refeições diárias e orientados a consumirem o quanto desejassem no intervalo de 1 hora.
Os cardápios eram mudados a cada semana e as refeições de cada grupo foram planejadas para apresentarem quantidades semelhantes de proteínas, carboidratos, gorduras, fibras, açúcares, sódio e calorias. A comida restante foi identificada e pesada para calcular a quantidade de cada alimento consumido, a ingestão de nutrientes e de energia.
O efeito do processamento de alimentos vai além do nutriente
Veja que interessante! Apesar de a alimentação ultraprocessada e não processada serem combinadas com quantidades semelhantes de nutrientes e energia, as pessoas consumiram mais calorias quando expostas aos alimentos ultraprocessados e ganharam mais peso.
Os pesquisadores descobriram que na segunda semana as pessoas comiam, em média, 500 calorias a mais por dia quando a comida era ultraprocessada. No grupo da alimentação não processada, a ingestão de energia não mudou significativamente ao longo do tempo.
O consumo energético levou a um ganho de peso de quase um quilo durante as duas semanas de alimentação ultraprocessada, enquanto a alimentação baseada em alimentos in natura e minimamente processados promoveu uma perda de cerca de um quilo.
Os participantes também avaliaram as refeições quanto à agradabilidade e familiaridade. Nesse ponto não houve diferença entre os dois tipos de alimentos. No entanto, se eles não gostaram mais dos ultraprocessados, porque os consumiram em maiores quantidades?
Os pesquisadores sugerem que as propriedades sensoriais dos alimentos ultraprocessados contribuem para isso. O fato de alguns deles terem uma textura mais macia ou serem mais fáceis de mastigar poderiam levar ao aumento do consumo e a um retardo da sinalização da saciedade.
O aumento da ingestão de energia durante a alimentação ultraprocessada resultou no consumo de maiores quantidades de carboidratos e gordura, mas não de proteína.
Isso também poderia explicar parcialmente o aumento da ingestão calórica com a alimentação ultraprocessada. Para manter uma ingestão constante de proteínas, o corpo poderia ir em busca de mais comida.
No entanto, não está claro por que os participantes escolheram atingir suas necessidades de proteínas por meio da ingestão excessiva de carboidratos e gorduras em vez de selecionar alimentos com alto teor proteico.
Os exames de sangue também revelaram que, durante a dieta não processada, as pessoas tinham níveis mais altos de um hormônio supressor do apetite (o PYY) e níveis mais baixos do hormônio estimulador do apetite (grelina), embora não esteja claro como essas mudanças se relacionam com o processamento dos alimentos.
Consumir menos ultraprocessados sim, mas sem demonizá-los
Em conclusão, o estudo sugere que o consumo de alimentos ultraprocessados aumenta a ingestão de energia e resulta em ganho de peso, enquanto uma alimentação com grande proporção de alimentos in natura e minimamente processados diminui a ingestão de energia e leva à perda de peso.
Por isso estou sempre batendo na tecla de consumir mais alimentos in natura, comida caseira e fresca. Quando conseguimos inserir mais desses alimentos na nossa alimentação, naturalmente consumimos menos alimentos ultraprocessados.
Mas cuidado com a demonização dos alimentos. Os ultraprocessados não precisam ser vistos como veneno.
Temos que considerar que na nossa sociedade, na qual o tempo sempre nos falta, esse tipo de alimento pode ser muito conveniente, prático e muitos deles podem ser mais baratos.
Portanto, não se trata apenas de uma decisão individual. Políticas públicas também devem ser pensadas para desencorajar o consumo de alimentos ultraprocessados. Mas enquanto isso não acontece por aqui, o melhor a se fazer é tentar organizar a rotina para ter comida de qualidade sempre disponível e comer com prazer e sem culpa!
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Fonte: UOL
Texto: Sophie Deram
Imagem ilustrativa: Bigstock
Edição: C.S.
Um estudo publicado na Cell Metabolism e coordenado pelo pesquisador Kevin Hall investigou se as pessoas consumiam mais calorias quando expostas a uma alimentação baseada em ultraprocessados em comparação com uma alimentação fresca e caseira, composta por alimentos in natura e minimamente processados.
Alimentos ultraprocessados versus in natura e minimamente processados
Com a promessa da perda de peso surgem diversas dietas restritivas: com baixo teor de carboidratos, cetogênica, low carb, entre diversas outras que restringem algum nutriente ou grupo alimentar.
Enquanto se debate os méritos e deméritos dessas dietas, menos atenção é dada a uma recomendação que deveria ser comum a qualquer estratégia que tenha como objetivo a saúde, seguindo as recomendações do Novo Guia Alimentar para População Brasileira: consumir mais alimentos in natura e minimamente processados, e menos alimentos ultraprocessados.
Os alimentos ultraprocessados geralmente são mais baratos, têm uma vida útil longa, são relativamente seguros do ponto de vista microbiológico e são muito convenientes, pois muitos deles estão prontos para consumo ou apenas necessitam de aquecimento.
Por outro lado, esse tipo de alimento apresenta muitos aditivos alimentares (conservantes, emulsificantes, aromatizantes etc.) e uma combinação de gorduras, carboidratos e sódio que os tornam hiperpalatáveis.
Para investigar a hipótese de que a qualidade do alimento é importante e não somente as calorias, eles selecionaram 10 homens e 10 mulheres adultos, que ficaram internados no National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais) por 28 dias.
Os participantes foram selecionados aleatoriamente para consumir uma alimentação à vontade baseada em ultraprocessados ou em alimentos in natura e minimamente processados por duas semanas, e em seguida o tipo de alimentação foi alternado.
A definição dos tipos de alimentos aconteceu de acordo com a classificação NOVA (a mesma utilizada para a elaboração do Guia Alimentar), que considera a natureza, a extensão e a finalidade do processamento ao categorizar alimentos e bebidas em quatro grupos: in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários (sal, açúcares, óleos e gorduras), alimentos processados ultraprocessados.
Durante cada fase do estudo, os sujeitos foram apresentados a três refeições diárias e orientados a consumirem o quanto desejassem no intervalo de 1 hora.
Os cardápios eram mudados a cada semana e as refeições de cada grupo foram planejadas para apresentarem quantidades semelhantes de proteínas, carboidratos, gorduras, fibras, açúcares, sódio e calorias. A comida restante foi identificada e pesada para calcular a quantidade de cada alimento consumido, a ingestão de nutrientes e de energia.
O efeito do processamento de alimentos vai além do nutriente
Veja que interessante! Apesar de a alimentação ultraprocessada e não processada serem combinadas com quantidades semelhantes de nutrientes e energia, as pessoas consumiram mais calorias quando expostas aos alimentos ultraprocessados e ganharam mais peso.
Os pesquisadores descobriram que na segunda semana as pessoas comiam, em média, 500 calorias a mais por dia quando a comida era ultraprocessada. No grupo da alimentação não processada, a ingestão de energia não mudou significativamente ao longo do tempo.
O consumo energético levou a um ganho de peso de quase um quilo durante as duas semanas de alimentação ultraprocessada, enquanto a alimentação baseada em alimentos in natura e minimamente processados promoveu uma perda de cerca de um quilo.
Os participantes também avaliaram as refeições quanto à agradabilidade e familiaridade. Nesse ponto não houve diferença entre os dois tipos de alimentos. No entanto, se eles não gostaram mais dos ultraprocessados, porque os consumiram em maiores quantidades?
Os pesquisadores sugerem que as propriedades sensoriais dos alimentos ultraprocessados contribuem para isso. O fato de alguns deles terem uma textura mais macia ou serem mais fáceis de mastigar poderiam levar ao aumento do consumo e a um retardo da sinalização da saciedade.
O aumento da ingestão de energia durante a alimentação ultraprocessada resultou no consumo de maiores quantidades de carboidratos e gordura, mas não de proteína.
Isso também poderia explicar parcialmente o aumento da ingestão calórica com a alimentação ultraprocessada. Para manter uma ingestão constante de proteínas, o corpo poderia ir em busca de mais comida.
No entanto, não está claro por que os participantes escolheram atingir suas necessidades de proteínas por meio da ingestão excessiva de carboidratos e gorduras em vez de selecionar alimentos com alto teor proteico.
Os exames de sangue também revelaram que, durante a dieta não processada, as pessoas tinham níveis mais altos de um hormônio supressor do apetite (o PYY) e níveis mais baixos do hormônio estimulador do apetite (grelina), embora não esteja claro como essas mudanças se relacionam com o processamento dos alimentos.
Consumir menos ultraprocessados sim, mas sem demonizá-los
Em conclusão, o estudo sugere que o consumo de alimentos ultraprocessados aumenta a ingestão de energia e resulta em ganho de peso, enquanto uma alimentação com grande proporção de alimentos in natura e minimamente processados diminui a ingestão de energia e leva à perda de peso.
Por isso estou sempre batendo na tecla de consumir mais alimentos in natura, comida caseira e fresca. Quando conseguimos inserir mais desses alimentos na nossa alimentação, naturalmente consumimos menos alimentos ultraprocessados.
Mas cuidado com a demonização dos alimentos. Os ultraprocessados não precisam ser vistos como veneno.
Temos que considerar que na nossa sociedade, na qual o tempo sempre nos falta, esse tipo de alimento pode ser muito conveniente, prático e muitos deles podem ser mais baratos.
Portanto, não se trata apenas de uma decisão individual. Políticas públicas também devem ser pensadas para desencorajar o consumo de alimentos ultraprocessados. Mas enquanto isso não acontece por aqui, o melhor a se fazer é tentar organizar a rotina para ter comida de qualidade sempre disponível e comer com prazer e sem culpa!
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Fonte: UOL
Texto: Sophie Deram
Imagem ilustrativa: Bigstock
Edição: C.S.
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