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Redação

contato@acessepiaui.com.br

14/08/2019 - 22h30

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14/08/2019 - 22h30

Marcha das Margaridas prioriza enfrentamento da violência contra a mulher

A 6ª edição aconteceu nesta quarta-feira, em Brasília, e reuniu cerca de 100 mil mulheres que marcharam em defesa de seus direitos.

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Mulheres do campo na Marcha das Margaridas

 Mulheres do campo na Marcha das Margaridas

Neste dia 14 de agosto, às 7h, um grupo de mulheres saiu do Pavilhão do Parque da Cidade, em Brasília e marchou em direção à Esplanada dos Ministérios, um centro de decisões chave para o País. Segundo estimativas, são mais de 100 mil. O horário não assusta: para mulheres rurais, da floresta e das águas, o nascer do sol é rotina em seus trabalhos, que se concentram em setores da agricultura familiar e da agroecologia.

A Marcha das Margaridas é a maior ação de mulheres da América Latina. Sua sexta edição teve início desde terça-feira, 13 de agosto, em que foi feita uma sessão solene na Câmara dos Deputados que tratou da temática das camponesas. Outras atividades estratégicas foram usadas ao longo do dia, mas apenas nesta quarta-feira, dia 14 de agosto, que elas colocaram nas ruas as vozes, os corpos e os chapéus de palha pelas demandas. Por acontecer a cada quatro anos, a Marcha pode escapar do calendário tradicional de atos – como o 8 de março, outra data importante para o movimento das mulheres -, mas que este ano contou com o suporte e a presença de indígenas, quilombolas e mulheres urbanas.

A coordenadora nacional da Marcha, Maria José Morais, explica que o movimento foi criado em homenagem a Maria Margarida Alves, sindicalista assassinada em 1983 por enfrentar barões do açúcar em Alagoa Grande, na Paraíba. Entre as principais pautas que unem as trabalhadoras rurais, a coordenadora destaca uma “luta de classes” pela manutenção de direitos, como a aposentadoria.

“Por mais que nós não fomos atingidos diretamente [pela reforma aprovada na Câmara, que teve a alteração da aposentadoria rural vetada], têm outras categorizas com as quais a gente se solidariza”, explica Morais, que também é Secretária de Mulheres da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). Nascida em Batalha, município piauiense localizado a 165 km de Teresina, Maria José é ligada desde os 16 anos à causa sindical. “Trabalhava com a juventude em programas que garantissem a permanência no campo, que ficassem não por obrigação, mas por se sentirem à vontade porque teriam educação, saúde, esporte, cultura e lazer”, explica.

Agricultoras familiares, camponesas, sem-terra, acampadas, assentadas, assalariadas, trabalhadoras rurais, artesãs, extrativistas, quebradeiras de coco, seringueiras, pescadoras, ribeirinhas, quilombolas, indígenas e quem mais estiver no cenário rural.  As 100 mil que chegam à Brasília são diversas, mas encaram realidades palpáveis no cenário atual, como o avanço histórico do desmatamento na Amazônia, a liberação de agrotóxicos em um ritmo jamais visto e demais ameaças à integridade das trabalhadoras.

A questão da violência contra a mulher nos interiores brasileiros é, para Maria José, a questão que mais lhe tira o sono. “Não dão a importância necessária, fica invisibilizado. A gente não tem, infelizmente, um instrumento para ter esse diagnóstico, para saber como que é essa violência. Mas acontece feminicídio também no campo, e ele precisa ser visto.”, completa.

A defesa pelo modo de vida das margaridas é um ponto permanente, que passa, também, pelo direito à terra e à denominação na titulação conjunta da propriedade – uma demanda conquistada pelas mulheres na Marcha de 2003, no governo do ex-presidente Lula. Maria José explica que a articulação com todas as camadas vêm de, pelo menos, 2 anos de trabalho antes do ano da próxima edição, um trabalho de base minucioso.

“A gente trabalha com 10 eixos temáticos que são extremamente importantes. Dentre eles, está a questão da previdência, da saúde, da educação, da terra, da água, da agroecologia. Desde o final de 2017, viemos fazendo esse debate com cada uma de nossas companheiras, para que todas as mulheres que vêm a Brasilia saibam o significado politico da Marcha das Margaridas e qual o impacto da Marcha na vida das mulheres.”, explica Maria José.

Em 2019, porém, uma tradição será quebrada: elas não entregarão ao governo as pautas de debate – pelo menos, não antes da Marcha acontecer, de fato. Maria José Morais diz que os ‘retrocessos reais’ do atual governo deixam a Marcha com um caráter de pressão, e não primeiramente de negociação. Na Esplanada, mesmo sem serem avisados, os políticos estarão cientes de que as margaridas estarão por lá. Em uma de suas canções, elas clamam:

“Terra sadia pra lucrar/ Canja na mesa no jantar / Um mínimo para se ter / Direito à paz e ao prazer”.

Carta Capital
 

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