Nexo Jornal | Os atos deste domingo (26) começaram a ser gestados ainda em abril. À época, grupos simpáticos ao governo pregavam abertamente o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. A pauta afastou inicialmente alguns setores de apoio ao presidente.
Até o fim do dia, tinham sido registradas manifestações em todos os estados e no Distrito Federal, de acordo com monitoramento feito pelo G1. Não houve estimativa de público total.
Duas análises sobre o impacto das mobilizações
O Nexo ouviu dois cientistas políticos a fim de analisar os efeitos políticos da mobilização de 26 de maio. São eles:
- CARLOS MELO | "Mesmo antes que se tivesse um balanço das manifestações deste domingo, podíamos dizer que o 26 de maio seria, sim, relevante. Em primeiro lugar porque a pauta que o motivou de início teve como efeito a fragmentação da direita brasileira. Seus componentes foram obrigados a se definir em relação à democracia e na defesa de suas instituições. O debate que antecedeu as manifestações teve o papel de separar joio e trigo, no que se refere a esses setores políticos. Sendo assim, isolou-se o núcleo duro do bolsonarismo e isto terá consequências importantes já no curto prazo.
Em segundo lugar, porque pode-se saber o tamanho desse bolsonarismo radical. Uma vez conhecido, podemos saber se ele é capaz ou não de assustar a democracia. Nesse sentido, podemos avaliar que o termômetro numérico das manifestações apontou uma temperatura apenas média. Não foi de magnitude capaz de pressionar o Congresso Nacional — que tende a continuar sua queda-de-braço com o poder Executivo. Mas, também demonstrou que o presidente Jair Bolsonaro ainda conta com algum recall da campanha. Bastante inferior aos 57 milhões de votos que obteve, mas o suficiente para afirmar que o presidente, ainda não está sozinho. Embora isolado ao lado de seu eleitor mais radical".
- FLÁVIA BOZZA MARTINS | "A mobilização foi relevante a partir de dois pontos de vista: apesar de as pesquisas de opinião estarem mostrando queda do apoio da população ao presidente Jair Bolsonaro, as pessoas foram às ruas neste domingo mostrando que ele conta com um capital político relevante trazido do período eleitoral, o que é comum nos primeiros meses de mandato de um presidente, a chamada “lua de mel”. Bolsonaro conta não apenas com uma base de simpatizantes que o apoiam e defendem, como também com uma rede de movimentos suprapartidários de direita que convocaram e mobilizaram a saída para as ruas em defesa do governo.
Por outro lado, é bastante relevante que um governo recém-saído das urnas com forte apoio popular necessite mobilizar eleitores em sua defesa. O período eleitoral acabou. A maior parte da população, que não adere a nenhum político ou partido específico, não está interessada em confirmar a popularidade presidencial, mas sim em sentir os efeitos das diretrizes do governo em seu dia a dia, por meio da percepção positiva da economia, queda do desemprego etc. São esses os desafios que o presidente precisa enfrentar e, apesar da aposta de que o apoio popular o auxilie a passar as reformas que seu governo argumenta serem necessárias para a retomada do crescimento econômico, não estou convencida de que isso seja suficiente para que a crise do governo se abrande. Isso porque, apesar de o presidente reafirmar o rechaço à “velha política”, ele ainda não apresentou o que seria essa “nova forma de governar”, tampouco o poder de eficácia desse caminho. As manifestações podem, portanto, estancar algumas perdas de popularidade. Mas não são o bastante para resolver os problemas de diálogo entre Executivo e Legislativo".
Até o fim do dia, tinham sido registradas manifestações em todos os estados e no Distrito Federal, de acordo com monitoramento feito pelo G1. Não houve estimativa de público total.
Duas análises sobre o impacto das mobilizações
O Nexo ouviu dois cientistas políticos a fim de analisar os efeitos políticos da mobilização de 26 de maio. São eles:
- Carlos Melo, professor de ciência política do Insper;
- Flávia Bozza Martins, professora de ciência política na Uerj
- CARLOS MELO | "Mesmo antes que se tivesse um balanço das manifestações deste domingo, podíamos dizer que o 26 de maio seria, sim, relevante. Em primeiro lugar porque a pauta que o motivou de início teve como efeito a fragmentação da direita brasileira. Seus componentes foram obrigados a se definir em relação à democracia e na defesa de suas instituições. O debate que antecedeu as manifestações teve o papel de separar joio e trigo, no que se refere a esses setores políticos. Sendo assim, isolou-se o núcleo duro do bolsonarismo e isto terá consequências importantes já no curto prazo.
Em segundo lugar, porque pode-se saber o tamanho desse bolsonarismo radical. Uma vez conhecido, podemos saber se ele é capaz ou não de assustar a democracia. Nesse sentido, podemos avaliar que o termômetro numérico das manifestações apontou uma temperatura apenas média. Não foi de magnitude capaz de pressionar o Congresso Nacional — que tende a continuar sua queda-de-braço com o poder Executivo. Mas, também demonstrou que o presidente Jair Bolsonaro ainda conta com algum recall da campanha. Bastante inferior aos 57 milhões de votos que obteve, mas o suficiente para afirmar que o presidente, ainda não está sozinho. Embora isolado ao lado de seu eleitor mais radical".
- FLÁVIA BOZZA MARTINS | "A mobilização foi relevante a partir de dois pontos de vista: apesar de as pesquisas de opinião estarem mostrando queda do apoio da população ao presidente Jair Bolsonaro, as pessoas foram às ruas neste domingo mostrando que ele conta com um capital político relevante trazido do período eleitoral, o que é comum nos primeiros meses de mandato de um presidente, a chamada “lua de mel”. Bolsonaro conta não apenas com uma base de simpatizantes que o apoiam e defendem, como também com uma rede de movimentos suprapartidários de direita que convocaram e mobilizaram a saída para as ruas em defesa do governo.
Por outro lado, é bastante relevante que um governo recém-saído das urnas com forte apoio popular necessite mobilizar eleitores em sua defesa. O período eleitoral acabou. A maior parte da população, que não adere a nenhum político ou partido específico, não está interessada em confirmar a popularidade presidencial, mas sim em sentir os efeitos das diretrizes do governo em seu dia a dia, por meio da percepção positiva da economia, queda do desemprego etc. São esses os desafios que o presidente precisa enfrentar e, apesar da aposta de que o apoio popular o auxilie a passar as reformas que seu governo argumenta serem necessárias para a retomada do crescimento econômico, não estou convencida de que isso seja suficiente para que a crise do governo se abrande. Isso porque, apesar de o presidente reafirmar o rechaço à “velha política”, ele ainda não apresentou o que seria essa “nova forma de governar”, tampouco o poder de eficácia desse caminho. As manifestações podem, portanto, estancar algumas perdas de popularidade. Mas não são o bastante para resolver os problemas de diálogo entre Executivo e Legislativo".
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