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Redação

contato@acessepiaui.com.br

28/01/2019 - 09h54

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28/01/2019 - 09h54

UFPI inicia primeiro estudo paleobiológico humano realizado no Piauí

O indivíduo foi resgatado no sítio arqueológico de Lagoa Cercada, localizado no município de Colônia do Gurgueia.

 UFPI

 

A Universidade Federal do Piauí (UFPI) está fazendo estudo paleobiológico de um indivíduo resgatado no sítio arqueológico de Lagoa Cercada, localizado no município de Colônia do Gurguéia-PI. 

A gente procura saber a partir do material que existe qual era o sexo do indivíduo, a faixa etária em que ele morreu, se ele tinha evidências de doenças, de violência, etc. Para além da análise macroscópica, outros estudos laboratoriais dos ossos e dos dentes nos permitem saber a datação desse indivíduo, que tipo de vida ele tinha, o que ele comia, qual a fonte d’água que ele consumiu ao longo da vida, conseguimos até saber se aquele indivíduo nasceu e morreu naquele lugar, ou se ele migrou para aquele lugar ao longo da vida. Então, tem uma série de informações que os restos humanos nos passam no que se refere à biologia do indivíduo. Outro aspecto estudado é a Antropologia Funerária, ou seja, o tratamento ou ritual pelo qual aquele indivíduo passou para chegar até ali”, disse a professora Profª Drª. Claudia Cunha.


O indivíduo estudado foi resgatado em 2013 por populares acompanhados pelo dono da terra onde está o sítio funerário. A Profa. Claudia Cunha esclarece que esse resgate, apesar de ter sido realizado por populares, foi feito com muito cuidado.

Na época não existia bioarqueólogo na Universidade, mas existia uma equipe de Arqueologia coordenada pela Profa. Jacionira Coelho Silva (hoje aposentada) trabalhando na região, que foi contatada pelos moradores. O esqueleto foi doado para a UFPI e desde então ficou no NAP, porque não havia quem o estudasse. Entrei na Universidade em abril deste ano e em outubro comecei a estudá-lo. Nós conseguimos identificar diversos tipos de alterações morfológicas no esqueleto, algumas de cunho patológico, outras decorrentes de fatores ambientais e modo de vida. Trata-se de um indivíduo idoso, do sexo masculino, que apesar de ter uma série de patologias, por incrível que pareça, à época, seria um indivíduo saudável, tanto que conseguiu chegar à terceira idade, o que era mais raro antigamente”, destaca.


Segundo o bolsista de pós-doutorado, CNPQ, no Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da UFPI, Dr. Tiago Tomé, normalmente na Bioarqueologia não são trabalhadas necessariamente as perspectivas do indivíduo, pois o que realmente interessa é a população, buscando compreender como essa população vivia, quais eram as dificuldades que enfrentava.

Em primeira análise, esse indivíduo nos permite reunir dados, que esperamos juntar aos de outros indivíduos, para termos uma imagem dessa população do passado que ocupava essa região do estado do Piauí nesse período. Porque aí nós conseguiremos entender quais são os principais problemas que essa população enfrentava no seu dia a dia”, explica.


O indivíduo encontra-se parcialmente mumificado. A coleta resultou na recuperação do crânio articulado com mandíbula; vértebras cervicais articuladas e demais vértebras e sacro desarticulados; escápula, clavícula, costelas, coxal e esqueleto apendicular todos esquerdos (exceto tíbia, fíbula e ossos do pé ausentes). A mão esquerda está presente e completamente mumificada. Tecidos moles preservados cobrem parcialmente o crânio e clavícula, e completamente o antebraço e mão esquerdos.

Foram recuperados também materiais de adorno (colar com quase 900 contas vegetais inteiras e fragmentos de outras) e indústria em fibras vegetais, inclusive restos de uma rede usada como mortalha foram recuperados. De acordo com a professora, alguns grupos indígenas até hoje fazem enterramento em redes, pois para eles a rede é um elemento de contato com o mundo dos mortos. Uma das interpretações avançadas por antropólogos que estudam populações atuais é de que alguns grupos acreditam que através do punho da rede que o espírito sai do corpo do morto para ir para a aldeia dos mortos, como um canal que liga os dois mundos. Isso explica o motivo do indivíduo ter sido enterrado dessa maneira, aspecto identificado com base na análise de antropologia funerária do material resgatado do sítio.

UFPI

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