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Redação

contato@acessepiaui.com.br

04/01/2019 - 10h37

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04/01/2019 - 10h37

Após três anos, salário mínimo tem aumento real; entenda porque!

Bolsonaro autorizou reajuste com base em regra que existe desde 2011. Chefes do Executivo têm pouca margem de escolha.

 

 

Nexo Jornal | Em dia de estreia no governo, 1º de janeiro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto que elevou o salário mínimo de R$ 954 para R$ 998. A medida é tradicionalmente assinada nos últimos dias de cada ano, mas o agora ex-presidente Michel Temer abriu mão de dar o aumento no fim de seu governo, deixou a tarefa para seu sucessor.

O aumento para 2019, de 4,61%, é o primeiro ganho real do salário mínimo em três anos, ou seja, o valor subiu mais que a inflação. O ganho real, porém, não é uma decisão de Temer ou de Bolsonaro. Ele só foi possível porque o país teve um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 1% em 2017.

Uma medida sancionada em 2011 e colocada em prática em 2012, ainda no governo Dilma Rousseff, criou uma regra para o aumento do salário mínimo. Seu valor passou a ser reajustado por uma fórmula, que leva em conta o PIB e a inflação.

Para o reajuste do mínimo de um ano (no caso, 2019), o presidente precisa levar em conta a inflação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) no ano anterior (no caso, 2018) e o crescimento registrado dois anos antes (no caso, 2017).

A ideia da fórmula é, a cada ano, repor as perdas inflacionárias e só dar aumento caso a economia tenha crescido. A lei de valorização do salário mínimo foi sancionada por Dilma em 2011 e renovada em 2015 até 2019, quando ela perde a validade se não for novamente votada pelo Congresso e sancionada pelo presidente.
 
As margens para a decisão presidencial
 

Apesar de ser uma fórmula matemática, a lei dá pequenas brechas ao presidente da República para definir o valor ao permitir que ele arbitre variáveis. A principal delas é a possibilidade de usar uma projeção para o INPC de dezembro - que só é divulgado em janeiro, depois do tradicional anúncio do reajuste.

Em caso de diferença entre o aumento dado pelo governo e o resultado da fórmula, um outro trecho da lei permite que “eventuais resíduos [sejam] compensados no reajuste subsequente, sem retroatividade”. Foi o que aconteceu também entre 2018 e 2019.

No reajuste anterior, a projeção do governo de Michel Temer subestimou a inflação de dezembro e pagou um mínimo menor. Na época, o Ministério do Planejamento informou ao Nexo que havia uma diferença de R$ 1,78 a ser compensada no reajuste seguinte. Com base nessas informações, fica assim o reajuste sancionado por Bolsonaro.

Nos primeiros onze meses de 2018, o INPC acumulado está em 3,29%, faltando apenas o resultado de dezembro. Levando em conta as variáveis conhecidas, é possível dizer que o governo projetou uma inflação do INPC de 3,42% para o ano.

Se a inflação de dezembro repetir o que foi em dezembro de 2017, ela fechará o ano em 3,56%. A projeção do governo, no entanto, é de um INPC menor do que no último mês do ano passado, o que levaria a inflação do ano para os 3,42%.
 
O uso político do valor

Nos últimos anos, o valor do salário mínimo tem sido usado como arma política tanto pela situação quanto pela oposição. No reajuste decretado por Bolsonaro não foi diferente. Enquanto partidários do atual presidente o elogiavam pelo aumento real - que só foi possível pelo crescimento da economia em 2017 -, opositores o acusam de “reduzir” o valor do mínimo.

Postagens do tipo foram feitas por páginas ligadas ao PT. O perfil oficial do partido no Facebook escreveu: “Bolsonaro diminui o valor do salário mínimo no primeiro dia”. As acusações contra o presidente se baseiam no valor projetado nas leis orçamentárias enviadas pelo governo e aprovadas pelo Congresso para o ano de 2019.

Na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), aprovada em agosto e que serve como primeiro rascunho do orçamento do governo federal, a projeção era de R$ 1.002. No projeto de LOA (Lei Orçamentária Anual), enviado no fim de agosto e aprovado pelo Congresso, sem alteração nesse ponto, no fim de dezembro, o valor projetado era de R$ 1.006.

A definição do mínimo, no entanto, não é feita pela LDO ou pela LOA, mas sim por decreto com base na Lei 13.152, de 2015, que renova a fórmula de valorização. As leis orçamentárias tratam apenas dos gastos do governo.

O que consta nos documentos são projeções feitas para ajudar na elaboração do Orçamento. Além do salário mínimo, há outras projeções macroeconômicas como expectativa de crescimento e inflação no período. Os dados macroeconômicos são projetados porque interferem na arrecadação e nos gastos do governo anualmente.

Nos quatro resultados divulgados entre o envio do Orçamento e a definição do salário mínimo, o INPC teve um mês de estagnação e um de deflação de 0,25%. Mas em junho a Comissão Mista de orçamento do Congresso já projetava um mínimo abaixo dos R$ 1 mil.

A disputa em torno do valor do mínimo não é nova. Temer foi seguidamente acusado de não dar aumento real ao valor do mínimo, mas os reajustes sancionados por ele não contemplavam anos de crescimento econômico.

Para o valor de 2018, é verdade, houve uma projeção subestimada no INPC de dezembro de 2017. A diferença de R$ 1,78 teoricamente está incorporada no valor de 2019. 

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